Diário de Bordo
Escorregadio quando molhado

Escorregar no chão molhado é uma experiência quase inevitável ao longo da vida. Depois do primeiro tombo, algumas pessoas passam a ser mais cautelosas e reduzem bruscamente sua velocidade quando voltam a estar nessa situação; outros, por sua vez, não se importam e caem repetidas vezes. Por fim, há aqueles que aprendem a pisar no chão molhado, mantendo uma cadência diferente e mais propositiva ao caminhar.
Fazer gestão de recursos é se colocar à frente do desconhecido, ou, se preferir, do chão escorregadio, e mostrar para todos o que está sendo feito. Na maioria das vezes, são os erros do passado que mais ensinam sobre o trabalho. Os passos a serem dados nesse ambiente nem sempre parecem coerentes e, invariavelmente, levam ao desequilíbrio. O mais importante nesses momentos é identificar rapidamente as mudanças e ser capaz de se adaptar às novas condições.
E foi justamente essa necessidade de adaptação rápida que pautou os recentes movimentos no cenário econômico global. A dupla Donald Trump e Scott Bessent deixou claro que os EUA devem passar por um aperto no torniquete. Desacelerar a economia é a única saída para conter os preços e empurrar as taxas de longo prazo para baixo. Renunciar aos gastos fiscais e reduzi-los bruscamente é a única maneira de reequilibrar os níveis de endividamento do país.
Tais medidas, que começaram por meio da renegociação dos termos de troca com os demais países do globo, trouxeram pânico aos investidores, que se viram obrigados a procurar novas fronteiras de investimento. As políticas fiscais expansionistas recém-introduzidas na Alemanha e na China acabaram por atrair uma boa parte do fluxo de recursos globais que antes eram direcionados para as Big Techs americanas. Em breve, a oferta atual de ações e ETFs dessas regiões será acompanhada por emissões gigantescas de títulos públicos de renda fixa — o pacote de infraestrutura alemão deve beirar os 500 bilhões de euros —, abrindo novas fronteiras para a alocação de recursos globais. No entanto, esses novos destinos também carregam desafios estruturais, como o risco político europeu e a fragilidade do setor imobiliário chinês.
Sob a ótica das ações americanas, pelo menos no curto prazo (e antes das muitas dúvidas que vão surgir sobre as demais economias desenvolvidas), a pressão vendedora continuará a se fazer presente. Os sinais mais fracos da economia, associados às dúvidas em relação ao processo desinflacionário, parecem suficientes para fazer perdurar o mau humor. A falta de estímulo para segurar ações americanas, inclusive, contagiou alguns fundos de pensão europeus, que foram mais agressivos e baniram dos seus portfólios ações específicas, como por exemplo a Tesla.
Entretanto, como o dinheiro não aguenta desaforo, as taxas de retorno a serem obtidas nessas outras regiões precisariam superar aquelas esperadas para as ações americanas nos próximos anos. Caso a regulação ou as eternas dissidências no campo político as afetem, a corrida de volta para a Bolsa de NY pode provocar uma boa arrancada até um novo topo. Como sempre, à conferir.
Por aqui, o clima local começa a mudar: com a bolsa brasileira ainda descontada e sinais de maior apetite ao risco, os investidores voltam a olhar para o Ibovespa. O índice retornou aos 132 mil pontos e dispara 7,9% no mês. O dólar frente ao real fez as mínimas do ano, ao som da hipótese de mudanças do regime político no próximo ciclo. Os juros reais cederam momentaneamente e deram fôlego para as carteiras de renda fixa. Aos poucos, o ambiente vai se tornando mais propício para a tomada de risco.
O comportamento dos mercados em março
Os últimos pregões da bolsa americana foram marcados pela maior volatilidade. O avanço do nível de incerteza fez com que os índices S&P 500 e Nasdaq apresentassem fortes perdas no mês. Até o fechamento de ontem (19), elas estavam em 4,7% e 4,9% em dólares, respectivamente.
Os investidores até ensaiaram uma retomada das compras após o Federal Reserve dar os primeiros sinais de que desacelerará o processo de quantitative tightening. A manutenção da taxa básica de juros americana nos níveis de 4,25%-4,5% não trouxe novidades. Entretanto, a partir das próximas semanas, haverá a redução do volume de recompras de títulos. Isso dá algum fôlego à liquidez do sistema, que já andava mais limitada, mas ainda sem um efeito imediato na precificação dos ativos. O senão para o mercado acionário, está ligado ao começo da temporada de resultados trimestrais lá fora, que engatilha o período de fim de recompras de ações por parte das companhias. Tecnicamente, a renda variável lá fora ainda deve continuar pressionada.
O ouro rompeu a barreira dos US$ 3.000 a libra-onça, consolidando-se como o grande refúgio em meio à incerteza global. O metal precioso se tornou um alicerce poderoso nas carteiras dos investidores globais e não deve perder esse status tão cedo. Enquanto o nível de incertezas estiver elevado e os conflitos (comerciais ou geopolíticos) não cessarem, a tendência é de que as moedas fiduciárias continuem a perder o seu valor. Nem mesmo o recém anunciado 14,25% ao ano da taxa Selic brasileira será páreo para tamanha destruição do poder de compra das moedas.
Aliás, é preciso mencionar: Gabriel Galípolo seguiu à risca as instruções deixados por Roberto Campos Neto e elevou a taxa Selic em mais 100 pontos base, além de sinalizar a continuidade do aperto para a próxima reunião do Copom — em menor grau, é verdade. Aqui dentro de casa continuamos com a ideia de que o ciclo se encerra nos 14,75% em maio, especialmente diante do quadro externo que continua a dar sinais mais claros do enfraquecimento econômico — o petróleo luta para se manter na casa dos US$ 70 e as commodities agrícolas continuam relativamente estáveis.
Dentre os fundos da gestora, as estratégias locais têm se saído melhor. Na parte de renda variável local, os fundos de ações (Oportunidades de uma Vida FIF Ações e Deep Value Brasil FIF Ações) têm conseguido se aproveitar do momento favorável e acelerar os ganhos neste início de ano. Nos fundos de renda fixa (Cash Yield FIF RF e Atrium Ativo FIF RF), temos conseguido emplacar bons prêmios em relação ao CDI. Na classe dos multimercados, o destaque é o Carteira Universa FIM, que tem se beneficiado da maior exposição em ações locais.
Já os fundos internacionais têm sofrido neste início de ano e entregaram parte dos fortíssimos ganhos da reta final do ano passado. Parte do mal desempenho está ligada à depreciação do dólar frente ao real — esperado de certa forma, dada a arrancada do dólar no final do ano passado —, mas também as mudanças dos fluxos dos investidores internacionais. Entretanto, continuo bastante construtivo para o restante do ano e vejo uma janela interessante de alocação se formando em meados de abril, no início da temporada de resultados. Até lá, a poeira levantada pelas questões tarifárias do comércio global devem se assentar, e o foco se voltará para a questão dos juros e resultados das companhias.
Lembre-se sempre: incertezas podem derrubar os despreparados, mas para quem sabe ler os sinais, são elas que criam as melhores oportunidades.
Forte abraço,
João Piccioni
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