Diário de Bordo

A nova fronteira da renda fixa: o Brasil que gira com 30 dias

João Piccioni

16 abr 2025, 10:55 (Atualizado em 16 abr 2025, 10:55)

Durante muito tempo, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios — ou FIDCs — habitaram um canto meio obscuro do mercado financeiro brasileiro, restritos a nichos específicos e considerados por muitos uma classe de ativos de difícil entendimento, baixa liquidez e governança duvidosa. Mas o tempo e os ciclos econômicos ensinam. Em meio aos juros estruturalmente mais altos, a busca por alternativas descorrelacionadas e diante de uma maior sofisticação do investidor, os FIDCs começam a ocupar um espaço cada vez mais relevante nos portfólios.

O amadurecimento institucional desses fundos, a evolução regulatória e a melhora dos processos de originação e monitoramento de crédito trouxeram mais segurança e atratividade para essa classe. Hoje, tornou-se praticamente impossível montar um portfólio eficiente de renda fixa — ou até mesmo um multimercado — sem considerar uma exposição a esse universo.

Nos Estados Unidos, a indústria de fundos estruturados é madura, ampla e absolutamente essencial para o financiamento da economia real. O mercado de CLOs (Collateralized Loan Obligations), por exemplo, já ultrapassa a marca de US$ 1,3 trilhão, sendo uma peça-chave no crédito corporativo americano. O total de ativos securitizados supera a marca dos US$ 13 trilhões, segundo dados da Securities Industry and Financial Markets Association (SIFMA). Por lá, securitização não é palavrão. É infraestrutura financeira. Uma forma eficiente de transferir riscos, alocar capital e manter o crédito girando. Aqui, os FIDCs caminham nessa direção, ainda com escala modesta, mas crescendo rápido e com mais sofisticação a cada ciclo.

Apesar dos avanços, esse mercado ainda sofre com uma certa resistência da Faria Lima. Há uma visão meio caricatural de que esses produtos operam num mundo de informação imperfeita, estruturas mal desenhadas e riscos escondidos. Não é completamente falso — mas também está longe de ser justo.

O curioso é que essa crítica parte de um lugar seletivo. Clifford Asness, gestor da AQR, no seu paper “Why Not 100% Equities: A Diversified Approach”, mostra como mesmo o mercado público — tão celebrado pelos gestores tradicionais — é um palco cheio de ruídos, vieses, imperfeições e interpretações enviesadas de dados e narrativas. A informação imperfeita não é exclusividade do mercado de crédito estruturado. O que muda é o tipo de incerteza — e o ferramental necessário para lidar com ela.

Montar um FIDC exige mais do que planilhas e backtests. É preciso entender profundamente o ativo subjacente, a lógica de pagamento, a capacidade de cobrança, os incentivos dos originadores e a estrutura de proteção jurídica. É artesanato financeiro. E, como todo bom ofício, demanda tempo, disciplina e muita proximidade com o risco real.

Tive a oportunidade de participar do time de gestão da Solis Investimentos por quase 10 anos — uma das casas precursoras dessa indústria no Brasil — na montagem dos seus principais fundos compradores de FIDCs. Vi de perto os desafios, as soluções criativas e o rigor técnico necessário para transformar uma tese de crédito num fundo robusto e escalável. Hoje, casas como a Solis e a Ouro Preto seguem como referências, mostrando que é possível fazer gestão de direitos creditórios com governança e resultado poderosos aos seus investidores.

Quando se olha com atenção, o que se vê nos FIDCs não é um desvio de sofisticação, mas uma expressão dela. A diferença é que, ao contrário dos mercados públicos, aqui o trabalho é menos glamouroso, mais analógico e profundamente conectado com a realidade da economia brasileira — inadimplência, comportamento de pagador, fluxo de caixa pulverizado, estrutura de garantias. Não tem glamour, mas tem essência.

Enquanto parte do mercado continua presa aos modelos paranóicos de precificação, aos múltiplos de tela, sistemas de risco que procuram calcular as covariâncias dos retornos do passado, tem gente olhando para recebíveis de cartão, crédito consignado, duplicatas, notas comerciais e recebíveis do setor de utilidade pública. São empresas reais, que vendem e compram todos os dias. O Brasil que “gira” com 30 dias, às vezes com 60. Esse é o Brasil de verdade  — e há retorno em saber entendê-lo.

Essa talvez seja uma das grandes assimetrias do mercado hoje. Porque enquanto muitos ainda acham que os FIDCs não figurarão como o mainstream, quem já entendeu o jogo está estruturando portfólios mais resilientes, com alfa verdadeiro e conexão com a economia real.

É com essa convicção que adaptamos o Empiricus Atrium FIC FIM CP à nova regulamentação da ICVM 175. A partir do dia 24 de junho, o fundo se tornará oficialmente um FIC FIDC, e passará a contar com o benefício tributário da classe – 15% de IR somente no resgate das cotas. Nossa proposta de gestão não muda. Ela é simples, mas potente: investir nos melhores gestores de FIDCs do Brasil, com histórico comprovado de mais de uma década de retornos consistentes aos investidores. O Empiricus Atrium FIC FIM CP já está disponível na plataforma do BTG Pactual, aberto a quem quiser participar dessa nova fase da renda fixa brasileira. Um excelente ativo para diversificar seu portfólio.

Fonte: Empiricus Gestão

O comportamento dos mercados em abril

A primeira metade do mês de abril foi extremamente intensa para os mercados financeiros. Vimos as bolsas americanas apresentarem seus piores retornos diários em mais de uma década. Vimos as ações da Apple serem dizimadas após a decisão de Donald Trump em elevar as tarifas para os produtos importados da China em até 145%. E também vimos o mesmo Donald Trump recuar após o ambiente em Wall Street se mostrar extremamente desconfortável com os rumos econômicos propostos.

No fechamento de ontem (15), os índices S&P 500 e Nasdaq-100 apresentavam perdas em dólares de 3,88% e 2,29%, respectivamente. O dólar recuava 3,88% frente à cesta de moedas dos países desenvolvidos. O ouro atingiu sua máxima histórica e avançava 3,41%. O metal precioso respondeu prontamente ao aumento do nível de estresse dos investidores e continuou a figurar como o símbolo do safe haven.

Por aqui, o Ibovespa também oscilou, mas acabou voltando para o campo positivo. No fechamento de ontem, o Ibovespa avançava 1,53%, aos 129.205 pontos. O real perdeu um pouco de espaço frente ao dólar, que avançava 0,61% frente à moeda nacional.

Do lado econômico, a surpresa veio dos indicadores de inflação mais fracos nos EUA. Tanto a inflação ao consumidor quanto ao produtor mostraram uma desaceleração importante, que muito provavelmente vai se estender para o mês de abril. A desinflação pode ganhar um pouco de força, dada a fraqueza nos dados microeconômicos ligados aos serviços. Se isso se confirmar, Powell terá um espaço para seguir a leitura mais dovish de Christopher Waller, um dos diretores do FED, cotado para substituí-lo.

Aliás, esse seria um dos suportes para uma possível recuperação de curto prazo das bolsas americanas. Apoiada também na retomada das recompras corporativas e no fim do período para declaração de imposto de renda no país, as ações poderiam voltar a respirar após o choque provocado pela imposição das tarifas comerciais. A cereja do bolo viria de um possível acordo entre Trump e China…

Sei que esses vetores são insuficientes para um rali robusto nas ações e talvez seja cedo para voltarmos à plena carga na renda variável. O trânsito da economia ainda parece bastante congestionado: uma eventual recessão nos EUA poderia levar a uma deterioração ainda maior do déficit nominal do país e uma fuga das ações. De fato, a volta para o microeconômico demorará um pouco mais do que o usual, especialmente após as mudanças de direção do fluxo de recursos dos investidores para outras regiões do globo. Entretanto, são nesses momentos que o investidor de ações consegue aproveitar preços defasados e empilhar retornos poderosos no médio e longo prazo.

Dentro do Empiricus Tech Select FIF Ações, nosso carro chefe dentre os fundos de tecnologia, voltamos a comprar marginalmente ações de companhias que devem suplantar as indecisões relativas às tarifas com alguma “tranquilidade”. Aumentamos a exposição às ações da Netflix, do Mercado Livre e Crowdstrike, um trio que já nos trouxe bastante retorno no passado. Todas as três companhias possuem características intrínsecas capazes de ultrapassar as tormentas atuais e gerar retornos em excesso para seus investidores.

Entre os fundos voltados para os ativos locais, além da Renda Fixa, chamo atenção para o Empiricus Deep Value Brasil FIF Ações, que voltou a abrir algum espaço frente ao Ibovespa, após o pregão de ontem. As ações da Embraer voltaram a se destacar após a China vetar a importação de peças da Boeing pelas suas companhias aéreas e as ações do Mercado Livre voltaram ao radar após o upgrade de uma importante casa de research americana. O ano vai se configurando positivo para as ações brasileiras e apesar do estresse, aos poucos, buscaremos os pontos deixados na mesa em 2024 nessa estratégia.

Vamos em frente!

Forte abraço,
João Piccioni


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PS2: Desde o último dia 17 de janeiro, nossos investidores ganharam mais um produto com liquidez diária para otimizar suas carteiras. Trata-se do Empiricus Cash Yield FIF Renda Fixa. O fundo tem como objetivo proporcionar um leve prêmio em relação ao CDI e dar ao seu cotista o benefício da liquidez diária. Sem limitações de volumes de aporte, o fundo tem uma taxa de administração de apenas 0,2% ao ano e está disponível para os investidores por meio da plataforma de investimentos do BTG Pactual.

Para conhecer mais sobre os produtos, acesse nosso catálogo de fundos.

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