Bússola do Mercado
Rotação global ganha força em semana de Super Quarta

Na edição passada, havíamos comentado sobre o forte movimento de realocação de portfólios, com destaque para os investimentos na Alemanha, impulsionados por um pacote fiscal voltado ao setor de defesa. Esse fluxo vinha se refletindo de forma positiva nas bolsas da região e, desde então, o movimento ganhou ainda mais amplitude. Segundo dados da LSEG Lipper, divulgados pela Reuters, os fundos de ações dos EUA registraram uma das maiores saídas líquidas dos últimos meses, refletindo uma cautela dos investidores diante do aumento das tensões comerciais. Esse reposicionamento fez parte de um ajuste global de portfólios, com impacto também em outras geografias.
Na Europa, as saídas de recursos foram mais contidas em comparação com semanas anteriores, sugerindo uma melhora na percepção de risco, especialmente após os anúncios econômicos na Alemanha. Já os mercados emergentes, com destaque para a Ásia, mantiveram a sequência positiva de captação, ampliando o movimento que já dura algumas semanas.
As medidas tarifárias adotadas pelo presidente Trump têm desempenhado papel relevante nesse cenário. O ciclo começou em fevereiro, com a imposição de tarifas sobre produtos do México, Canadá e China, e ganhou força na última semana com o anúncio de uma tarifa de 25% sobre veículos importados, incluindo peças. A justificativa da Casa Branca tem sido o incentivo à produção nacional e à geração de empregos. No entanto, as ações provocaram respostas de países afetados, reacendendo temores de uma guerra comercial e seus impactos sobre o comércio global. Ontem (26), bolsas globais recuaram, o dólar avançou, nos EUA, o setor de tecnologia caiu mais de 2%, e montadoras também foram pressionadas diante da perspectiva de taxação sobre veículos importados.
Apesar da recente movimentação de fluxo para fora dos Estados Unidos, esse reposicionamento não altera a relevância estratégica de manter exposição à economia americana e ao dólar. Os EUA continuam sendo o principal polo de inovação global, com mercados profundos, ampla liquidez e papel central na dinâmica financeira internacional, a realocação observada reflete ajustes táticos diante do cenário atual.

No Brasil, os mercados têm refletido tanto os fatores externos quanto as decisões locais de política monetária. Após renovar máximas recentes, dia 26 o índice chegou a operar acima dos 132 mil pontos, mas perdeu força ao longo do pregão e encerrou com leve alta de 0,34%, puxado por ações ligadas a commodities. O movimento refletiu realização de lucros e o aumento da cautela após novas sinalizações de tarifas por parte do governo americano.
O dólar, por sua vez, vinha em trajetória de queda frente ao real nas últimas semanas, acumulando valorização relevante da moeda brasileira no ano. Após um breve repique com as decisões do Fed e do Copom, a moeda americana voltou a recuar no dia 25, em linha com o diferencial de juros favorável ao Brasil e alguma trégua no ambiente externo. No dia 26, o dólar comercial encerrou cotado a R$ 5,74, com leve alta de 0,58%, interrompendo o movimento de baixa da véspera. Em linhas gerais, o câmbio tem oscilado dentro de uma faixa estreita, enquanto o Ibovespa segue testando topos recentes, com volatilidade sensível ao noticiário macroeconômico.
A Super Quarta trouxe resultados dentro do esperado. O FOMC manteve a taxa básica de juros dos Estados Unidos inalterada, no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano, em decisão unânime e já amplamente precificada. Ao mesmo tempo, o Fed atualizou suas projeções macro, elevando a estimativa de inflação núcleo (PCE) para o fim de 2025, de 2,5% para 2,8%, e reduzindo a previsão de crescimento do PIB de 2,1% para 1,7%.
Apesar da deterioração do cenário, o comitê manteve a sinalização de dois cortes de juros ainda em 2025. O comunicado teve tom mais brando em relação à reunião anterior, com a retirada da avaliação de que o balanço entre inflação e crescimento está “relativamente equilibrado”. Jerome Powell afirmou que os efeitos das tarifas devem ser transitórios, mas reconheceu que o ambiente atual é marcado por “incerteza excepcionalmente elevada”.
No Brasil, o Copom elevou a taxa Selic em 100bps, de 13,25% para 14,25% ao ano. A decisão, já sinalizada em dezembro, marcou a terceira alta consecutiva e levou os juros ao maior nível desde 2016. Tanto o comunicado quanto a ata mantiveram um tom duro. O Banco Central reconheceu sinais de desaceleração da atividade, mas reforçou que a inflação segue pressionada, especialmente no setor de serviços. A autoridade monetária sinalizou um ritmo menor de alta para a próxima reunião, mas evitou qualquer indicação para além do curto prazo, citando o nível elevado de incerteza.
Estamos presenciando um momento em que os ruídos do cenário macroeconômico têm exercido um papel relevante no mercado. A combinação de políticas comerciais mais agressivas, incertezas sobre o crescimento global e a condução da política monetária, tanto aqui quanto lá fora, tem mantido os mercados em modo defensivo e reforçado a sensibilidade a qualquer nova sinalização.
Com a nossa Bússola do Mercado calibrada, como ficaram os resultados dos fundos?
Agora é hora de conferir como algumas estratégias Empiricus Gestão enfrentaram as turbulências recentes, com data-base de 24/03.
O Empiricus Oportunidades de Uma Vida sobe 7,35% no mês, com contribuição relevante de SBF, Localiza e B3. As três companhias reagiram positivamente à divulgação dos resultados do quarto trimestre, que vieram dentro ou acima das expectativas e ajudaram a sustentar o bom momento das ações em março. A versão previdenciária também se destacou, com alta de 7,97% no período.
O Empiricus Carteira Universa acumula alta de 3,55% em março, enquanto a versão previdenciária avança 3,59%. O resultado reflete o forte desempenho do book de ações, além da recuperação do book de proventos. No acumulado do ano, ambos os fundos seguem bem acima do CDI.
Já o Empiricus FoF Commodities avança 2,33% no mês, impulsionado principalmente pela valorização dos metais. O ouro segue beneficiado pelo ambiente de incerteza global e expectativas sobre juros, enquanto a prata e o cobre acompanham o movimento. A carteira segue diversificada entre diferentes ciclos de commodities, com exposição relevante a ouro, prata, cobre, petróleo e urânio.
O mês caminha para o fim com forte influência do cenário externo sobre os ativos locais. A combinação entre tensões comerciais, revisões macroeconômicas e decisões de política monetária tem exigido atenção redobrada na calibragem das carteiras.
Fique de olho, pois a cada quinzena seguimos acompanhando de perto como essas variáveis evoluem e quais novas oportunidades — ou riscos — podem surgir no caminho.
Abraços,
Yasmin Orozimbo
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