Diário de Bordo

15 anos depois…

Kiki Knudsen

16 mar 2023, 17:03 (Atualizado em 16 mar 2023, 17:03)

Me lembro bem. Parece ontem. 

A Lehman Brothers colapsou em 15 de setembro de 2008, pedindo recuperação judicial e causando uma crise financeira cujos efeitos perduraram até hoje. Quase 15 anos depois nos defrontamos com outro banco falindo. 

O Silicon Valley Bank (SVB), muito usado por empresas de tecnologia e startups, foi levado à liquidação pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, equivalente ao nosso Fundo Garantidor de Crédito) no dia 10 de março. Foi a segunda maior falência bancária na história dos Estados Unidos.  

A quebra foi uma combinação de alta taxa de juros e seu passivo, pouco diversificado, necessitando de liquidez e forçando o banco a liquidar sua posição em títulos norte-americanos, comprado na média a taxas de 1,8% ao ano e vendidos a 3,9%, gerando uma perda de marcação a mercado de 1,8 bilhões de dólares.  

Em resumo, uma tremenda má gestão de risco no gerenciamento de ativos e passivos. 

Silicon Valley Bank. Fonte: Bloomberg 

A crise de 2008 foi precedida de alguns pequenos indicadores. Me lembro de dois hedge-funds da Bears Stearns especializados em títulos subprime quebrarem em julho de 2007. Algo estava errado, mas poucos deram as devidas atenções para esse momento que precedeu em mais de 1 ano a crise de 2008. 

Muito anos depois, após a pandemia e com os bancos centrais lutando contra a inflação, eram frequentes as discussões sobre o efeito do aumento de taxa de juros nos EUA após um ambiente prolongado de juros baixos. Após a crise financeira de 2008, os juros básicos não passavam de 2,5% até esse ciclo de alta atual, começado em abril de 2022. Hoje em 5%, o FED ainda indicava que que os juros podiam passar de 5,5% nas próximas reuniões. 

Alguns dias antes, o banco Silvergate, especializado em criptomoedas, e que já vinha sofrendo desde o final do ano passado, anunciou que ia encerrar suas operações.  

Silvergate. Fonte: Bloomberg 

No domingo, dia 12, o estado de Nova York interveio no Signature Bank, outro banco especializado em cripto, mas muito maior que o Silvergate. Com medo de um contágio sistêmico, o governo garantiu liquidez para todos os depósitos no Silicon Valley Bank, não apenas os $250 mil garantidos pelo FDIC. 

Signature. Fonte: Bloomberg 

Ontem, dia 15, foi a vez do Credit Suisse cair fortemente, voltando às antigas preocupações sobre sua solvência. O governo suíço também foi rápido e garantiu liquidez ao gigante se fosse necessário. Com boatos de compras do banco, hoje os preços estão recuperando as perdas do dia anterior. 

Credit Suisse. Fonte: Bloomberg 

Essas intervenções trazem de voltas as discussões sobre o moral hazard, “perigo moral” em tradução livre, que é o incentivo a tomar risco no negócio por estar protegido por um seguro ou um terceiro, neste caso, os governos. 

Em 2008, o governo norte-americano não quis ser acusado deste moral hazard, deixando a Lehman quebrar, e está pagando o preço até hoje. Pela velocidade de resposta das autoridades norte-americanas e suíças, isso não deve acontecer novamente. Aparentemente vão manter o risco de contágio baixo, independente do custo. 

Essa história está longe de terminar, mas algumas lições já ficam. Muitas delas são as mesmas de 2008. Mas o tempo passou e diversos analistas de mercado, já considerados experientes, ainda não estavam no mercado na época. 

Analistas erram bastante. O Silicon Valley Bank era um dos mais recomendados. No início do ano, o banco recebia 12 recomendações de “compra” e apenas uma de “venda”, segundo a Bloomberg. 

Agências de rating também erram. Segundo a Moody’s e o S&P, até o começo de março, o SVB era grau de investimento! 

Vale notar que não houve fraude, como no caso das Americanas. A situação financeira da empresa e o ambiente macroeconômico estavam aí para todos verem. 

As regras de capital e liquidez dos bancos, revisitadas após 2008, também não foram fortes suficientes. Novas regras e testes de estresse devem ser criados após essa quebradeira recente, mas nada garante que vão funcionar no futuro. 

É claro, após o fato, que diversas teses aparecem. Como a atitude do banco de agir mais como a maioria de seus clientes (startups de tecnologia) do que um banco tradicional mais sério. 

Mas a razão principal da quebra foi a completa falta de gestão de risco. A  Chief Risk Officer Laura Izurieta saiu em outubro e foi substituída em dezembro por Kim Olson, que ficava em Nova Yorque, a 4700 quilômetros de distância. Não dá para fazer gestão de risco de um banco sem estar com o dedo na jugular da tesouraria. Esse foi um erro fatal. 

O mercado reagiu aos acontecimentos, com forte queda dos ativos de risco, recuperando parcialmente nesta quinta-feira. A discussão de aumento de juros nos EUA repentinamente mudou para uma possível manutenção. O S&P 500 (bolsa norte-americana) está praticamente zerado no mês. 

O Brasil, por ser um emergente em um movimento de risk-off, sofreu mais. Apesar da recuperação desta quinta, o Ibovespa cai 1,3% no mês, negociando em torno de 103.000 pontos. O dólar estressou para 5,24. E por aqui ainda temos a expectativa do novo arcabouço fiscal. 

O ativo que se beneficiou com essa crise bancária acabou sendo o Bitcoin, que navega fora do sistema tradicional e se valorizou de 20.000 para 25.000 dólares. 

Ainda estamos esperando por uma visibilidade melhor. Por enquanto não acreditamos que esses eventos irão causar um crash de mercado, mas com certeza a volatilidade permanecerá e o viés continua sendo negativo. 

Live FoF Melhores Fundos 

Na última terça-feira (14), fizemos nossa live mensal, com o Bruno Mérola e a Laís Costa, especialistas da Empiricus Research responsáveis pelo relatório Os Melhores Fundos de Investimentos. Nela, falamos sobre os fundos de fundos da família Melhores Fundos e da família SuperPrevidência. 

Começamos o nosso papo com algumas ponderações sobre o cenário nacional e internacional ao longo do último mês. Falamos sobre a movimentação das Bolsas e dos ativos de risco e também destacamos as consequências e reações do mercado após as quebras dos bancos nos EUA, passando pela visão dos gestores sobre o acontecimento. 

Papo bem produtivo, com muito conteúdo de valor para os investidores que alocam seu capital em fundos de fundos. Vale a pena assistir na íntegra. Para que você possa acompanhar hoje mesmo tudo o que foi dito por nós, basta clicar aqui que você será direcionado para a live. 

[Novidade] Novos relatórios de Long & Short

A partir de agora, semanalmente, disponibilizaremos recomendações de operações Long e Short feitas por nosso analista quantitativo com mais de 12 anos de experiência, o Nilson Marcelo. Ele é um dos pioneiros em análise quantitativa aqui no Brasil e utiliza códigos matemáticos e estatísticos para compreender o comportamento dos papéis da Bolsa. 

Serão duas estratégias: uma de cointegracao entre ações, e outra de 3 ações que podem superar o seu benchmark. 

Nos últimos dias, o mercado não tem demonstrado uma tendência clara de movimento. E, por ser imprevisível, sabemos que pode subir ou cair a qualquer momento. 

Em um cenário como esse, a estratégia Long e Short pode te fazer embolsar bons lucros. Não importa se a Bolsa está subindo ou descendo. Importa que o ativo da ponta comprada (long) performe melhor – ou menos pior — que o da ponta vendida (short). 

Nesse cenário onde ninguém sabe para onde a Bolsa vai, é para esse tipo de estratégia que você precisa olhar.

Acesse aqui o relatório de cointegração.

Acesse aqui e descubra as 3 ações que tem potencial de superar o Ibovespa.

Caso você tenha alguma dúvida ou sugestão, basta enviar para a gente pelo  

atendimento@empiricusinvestimentos.com.br.  

Até a próxima semana!  

Um abraço,  

Rodrigo Knudsen 

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