A história se repete (ou desta vez é diferente?)

“Todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo, por assim dizer, ocorrem duas vezes.” – Georg Wilhelm Friedrich Hegel  

Como geek que eu sou, fui ver o terceiro filme dos Guardiões da Galáxia neste último final de semana. Não sabia o que esperar. O último filme da Marvel, Quantumania, deixou muito a desejar. 

É claro que o Homem-Formiga não é dos melhores personagens, mas estaria a Marvel perdendo a mão? A história se repetiria ou desta vez seria diferente?  

Foi diferente: trata-se de um belo filme. Nada é linear, nem simples na vida moderna. Se é assim na hora de assistir um “simples” filme, imagina nos mercados… 

O cenário continua incerto. Tanto aqui em terras tupiniquins quanto no exterior. Mesmo com a evolução de alguns assuntos como o fim da alta dos juros nos EUA e a nova redação do arcabouço fiscal. 

A prova disso são os fundos multimercados, que estão com bastante dificuldade de bater o CDI (taxa básica de juros) nos últimos meses. 

O índice de hedge funds da ANBIMA (IHFA), que mede a rentabilidade de uma coletânea de fundos multimercados rende no ano apenas 2,44% contra um CDI de 4,73% (até o dia 15). Nos últimos 12 meses, a diferença é ainda maior, com um retorno de 7,69% do IHFA bem abaixo dos 13,38% do CDI. 

Esse índice é composto por fundos de gestores reconhecidos da indústria, como JGP, SPX e Verde, batendo o CDI por muito desde seu início em 2008, como pode-se ver no gráfico abaixo. 

Isso mostra quão difícil está se posicionar no mercado neste momento. O que está aparentemente caro permanece caro. E o que está barato não sobe. E não sabemos se a história irá se repetir, ou se desta vez vai ser diferente. 

Essa conjuntura me lembra a lenda do Nó Górdio.  

Diz a lenda que no século VIII a.C., o rei da Frígia (região centro-oeste na antiga Ásia Menor, atualmente Turquia) morreu sem deixar herdeiros. Em seguida o Oráculo foi consultado para saber como aconteceria a sucessão do monarca. E ele profetizou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois.  

A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça no templo de Zeus e a amarrou com um nó a uma coluna, nó este impossível de ser desatado. 

Seu filho Midas (sim aquele do toque de ouro) também morreu sem herdeiros. Novamente o Oráculo entrou em ação e declarou que quem desatasse o “nó de Górdio” dominaria toda a Ásia Menor. 

Durante mais de 100 anos, o nó górdio desafiara todos os esforços até que, em 334 a.C., Alexandre, o Grande, intrigado com o desafio, foi até o templo, desembainhou sua espada e cortou o nó facilmente em dois. 

O gatilho que irá desatar o atual nó nos mercados deve ser algo inesperado (como o capricho de Alexandre) e deve deflagrar um movimento mais brusco dos mercados. 

Entretanto, o timing ainda é bastante incerto. Nem a crise bancária teve algum efeito mais forte nos ativos. 

Mesmo com um cenário de recessão, a bolsa norte-americana, medida pelo S&P 500, continua em patamares altos, sustentada pelas grandes ações de tecnologia como Microsoft, Google, Apple e Amazon, Meta e Tesla.  

Sem elas, a bolsa por lá estaria caindo, em vez de estar subindo mais de 8% no ano. A narrativa sobre a inovação da inteligência artificial (AI) também ajuda. Nas coletivas de imprensa pós-resultados, AI foi mencionada mais de 1000 vezes, inclusive por empresas que não são de tecnologia! 

Por aqui, o Ibovespa, com uma melhora na percepção do arcabouço, voltou para os 110 mil pontos, mas continua com múltiplos bem baixos (sinal que está barato). 

Seguimos vigilantes. É apenas uma questão de tempo para que o cenário clareie e a convicção volte em nossas posições. 

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