Diário de Bordo
Alguns insistem em vender em maio…

Os últimos dias do mercado financeiro global têm sido marcados por um aumento expressivo do apetite ao risco. Algumas bolsas globais romperam máximas históricas, enquanto os principais índices da bolsa americana voltaram a flertar com o zero-a-zero no ano. O dólar, antes servidor absoluto dos investidores, agora dá espaço para outras moedas fiduciárias na busca por retornos em excesso em outras geografias.
Apesar das notícias ainda turbulentas das frentes econômica e geopolítica, aos poucos, a construção do cenário para o segundo semestre do ano vai se tornando menos complicada. A leve aceleração econômica europeia é suportada pelo influxo de recursos no euro e traz um equilíbrio maior à balança de riscos. O alívio inflacionário na região deve ser percebido ao passo da valorização da moeda. São os primeiros sinais de um possível goldilocks no verão europeu, que deve ganhar impulso de uma política monetária menos restritiva.
O efeito do dólar mais fraco, por sua vez, também traz ramificações para os mercados emergentes. O pulso de liquidez provocado pela entrada de capital é inebriante, torna as análises macroeconômicas menos relevantes e coloca a busca por risco no topo da hierarquia dos investidores. O que se inicia de forma lenta — a alocação em renda variável —, provavelmente ganhará uma forte tração à medida que o feedback positivo se acelera.
Em meio ao renovado apetite por risco, dois protagonistas voltam a dominar o palco dos mercados globais: o Bitcoin e as grandes empresas de tecnologia listadas nos Estados Unidos. A criptomoeda tocou a marca dos US$ 110 mil, renovando seu recorde histórico e consolidando sua posição como um ativo escasso e global, cada vez mais presente nas carteiras institucionais. Paralelamente, ações de gigantes do setor de tecnologia — especialmente aquelas ligadas à inteligência artificial — voltaram a puxar os índices americanos, reafirmando que, apesar da crescente dispersão de oportunidades em outras geografias, o caminho para se investir em tecnologia de ponta ainda passa, de forma quase obrigatória, pelas bolsas dos EUA. O Nasdaq segue como o epicentro da disrupção, onde inovação, capital e escala se encontram de maneira inigualável. A corrida para inovação só está no seu começo (sempre).
No compasso desse movimento de rotação geográfica dos investimentos, o Brasil voltou a ocupar um lugar de destaque. O Ibovespa rompeu recentemente suas máximas históricas, impulsionado tanto por fluxos estrangeiros quanto por uma reprecificação interna dos ativos. A defasagem acumulada nos múltiplos de ações brasileiras ao longo dos últimos trimestres transformou o mercado local em um terreno fértil para a busca por investimento em valor em escala. A atratividade aumenta à medida que o ciclo de aperto monetário parece se aproximar do fim — ainda que a incerteza fiscal e política continue exigindo prêmios de risco elevados.
Mas nem tudo é euforia. O governo federal tem promovido intervenções que, sob o pretexto de aumentar a arrecadação, acabam comprometendo a previsibilidade e a funcionalidade de instrumentos fundamentais do mercado. Dois movimentos recentes provocaram ruído relevante: o avanço da tributação sobre aplicações em VGBL — historicamente utilizadas como ferramenta legítima de planejamento sucessório e investimento de longo prazo — e a resistência em reduzir o IOF sobre o crédito, mesmo diante de um ambiente de juros reais ainda elevados. No fim da linha, é o tomador que sofre: famílias e empresas que enfrentam um dos sistemas de crédito mais caros do mundo e veem na complexidade tributária mais uma camada de opacidade e custo. O risco é sufocar o ciclo de retomada econômica no nascedouro, trocando o investimento produtivo por um curto-circuito arrecadatório. É um ponto de atenção na corrida dos touros.
A construção de um bull market raramente é linear. Ela se dá em camadas — de sentimento, de liquidez, de fundamentos. O que temos agora é um dólar mais fraco no mundo, gerando uma redistribuição dos fluxos globais e renovando o apetite por risco em geografias antes negligenciadas. Trata-se menos de uma aposta cega em emergentes e mais de uma busca ativa por retorno fora dos pólos tradicionais. Mas para que esse fluxo seja duradouro, é preciso mais do que ativos descontados: é preciso segurança jurídica, estabilidade institucional e um mínimo de racionalidade econômica. O capital continua disposto a circular — a pergunta é se estaremos à altura de recebê-lo de forma permanente, ou apenas como um intervalo exótico no grande roteiro da liquidez global.
O comportamento dos mercados em maio
O “sell in May and go away” — o velho ditado de Wall Street — sugere que maio é o momento ideal para os investidores se afastarem do mercado. No entanto, neste ano 2025, essa máxima não se sustentou. Até o dia 27, o S&P 500 acumulava uma alta de 6,3% no mês, o melhor desempenho mensal do ano até então. O Nasdaq Composite registrava um avanço de 9,4%, enquanto o Dow Jones apresentava um ganho mais modesto de 4,1%. Esse desempenho reflete um apetite renovado por risco, impulsionado pela combinação de dados inflacionários benignos e sinais de distensão geopolítica — como a flexibilização de tarifas entre EUA e China. A liquidez voltou com força, e o mercado respondeu como de costume: antecipando, exagerando, subindo.
Aqui dentro fizemos nossa lição de casa. Os fundos de renda fixa continuam apresentando retornos consistentes, apoiados no suporte da leve retração da curva de juros brasileira. No mês, o Empiricus Cash Yield, nosso fundo de liquidez diária, traz até aqui um retorno de 1,03% (106% do CDI); enquanto o Empiricus Atrium FIC FIM, nosso fundo voltado para o investimento em FIDCs, traz um retorno de 1,06% (115,4% do CDI).
Mas foi na renda variável que vimos os maiores destaques. As três principais estratégias da casa focadas em ações brasileiras despontaram e acumulam altas superiores aos 5% no mês. O Empiricus Microcap Alert FIF Ações é o destaque, com valorização de 9,09%, puxada pela estratégia mais concentrada em companhias de menor capitalização de mercado. Em seguida, vem o Empiricus Oportunidades de uma Vida FIF Ações, que apresenta um retorno de 5,17%. A estratégia, que segue a carteira recomendada pelo Felipe Miranda, fundador da Empiricus Research, possui um foco mais claro em companhias ligadas ao cíclico doméstico. Por fim, o Empiricus Deep Value Brasil avança 5,11%, apoiado por uma estratégia de valor mais definida. Desde seu início, em novembro de 2020, o fundo acumula valorização de 45,8% e de 19 pontos percentuais de alfa ante ao índice Ibovespa.
Do lado internacional também tivemos destaques. A retomada do setor de tecnologia empurrou as carteiras dos fundos de renda variável internacional, que agora só ficam devendo por conta da desvalorização do dólar frente ao real (-8,5%). A retomada do alvoroço no setor se deu após a vocalização mais intensa dos CEOs das Big Techs, Jensen Huang (Nvidia), Satya Nadella (Microsoft) e Sundar Pichai (Google), sobre os avanços ligados às ferramentas em Inteligência Artificial. De fato, os passos no setor continuam largos e devem de sobremaneira continuar a atrair recursos dos investidores globais, apesar das inconstâncias dos sinais produzidos pelo governo americano nestes primeiros cinco meses do ano. Na semana que vem, publicaremos a sétima carta do Empiricus Tech Select. Nela, abordaremos o tema da guerra comercial e qual a nossa visão de futuro para o segmento, além de discutirmos nosso posicionamento e estratégia para o ano.
De forma geral, o saldo do mês de maio foi bastante positivo para aqueles que se mostraram resilientes. Reitero aqui a frase conclusiva do último diário de bordo: o bull market acordou, e para quem souber manter a disciplina e a paciência, os próximos capítulos prometem ser generosos… como sempre. A hora é de embarcar.
Forte abraço,
João Piccioni
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PS2: Desde dia 17 de janeiro deste ano, nossos investidores ganharam mais um produto com liquidez diária para otimizar suas carteiras. Trata-se do Empiricus Cash Yield FIF Renda Fixa. O fundo tem como objetivo proporcionar um leve prêmio em relação ao CDI e dar ao seu cotista o benefício da liquidez diária. Sem limitações de volumes de aporte, o fundo tem uma taxa de administração de apenas 0,2% ao ano e está disponível para os investidores por meio da plataforma de investimentos do BTG Pactual. Desde o seu início, em novembro 2023, o fundo entrega um prêmio de 104% do CDI.
Para conhecer mais sobre os produtos, acesse nosso catálogo de fundos.
Apresentamos a seguir a tabela contendo os resultados das principais estratégias da casa, nas janelas mensal, semestral e anual. Caso você deseje conferir algum outro fundo que não esteja presente nesta lista, visite nosso catálogo de fundos.

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