Diário de Bordo
As maiores fraudes da história
Minha última prova no mestrado em Stanford foi em maio de 2001. Foram quase 3 horas sentado numa cadeira apertada do Auditório Terman (que, anos depois, foi demolido para dar lugar a um novo jardim), respondendo a perguntas baseadas em um estudo de caso sobre a empresa Enron.
Naquela época, a empresa americana de energia, dedicada à exploração e distribuição de eletricidade e gás natural, era a queridinha dos mercados, que viviam o esvaziamento da primeira bolha da internet.
No ano anterior, a Enron, comandada pelo então brilhante Jeffrey Skilling, tinha alcançado o posto de sétima maior empresa americana, avaliada em quase US$ 70 bilhões.
O estudo de caso era uma ode às habilidades de gestão estratégica de Skilling e sua turma. A prova, se não me engano, era justamente de uma matéria chamada Corporate Strategic Management.
Voltei para o Brasil em julho, sem imaginar como seria o segundo semestre daquele ano. Em 11/set experimentamos o terror dos ataques às Torres Gêmeas e outros alvos em solo americano.
Pouco tempo depois, depois de uma série de investigações, a SEC (a CVM americana), divulgou que a Enron fraudava seus balanços, reportando, durante anos, lucros maiores que os reais. O Governo americano abriu processos contra os executivos da empresa e contra a empresa de auditoria Arthur Andersen. Em out/2001 o preço das ações da empresa caiu de US$ 86 para US$ 0,30!
Os executivos foram indiciados em 2004 e condenados em 2006. Jeff Skilling foi condenado por 19 casos de conspiração, fraude, comércio ilegal e declarações falsas, começando a cumprir a pena em dezembro do mesmo ano. Estas acusações levavam a uma sentença máxima de 185 anos combinados. Ken Lay, por sua vez, foi condenado por seis casos de conspiração e fraude. Em julgamento separado, Lay foi também declarado culpado por quatro casos de fraude bancária.
O impacto para o mercado financeiro foi maior do que o causado pelos ataques terroristas. A fraude da Enron mudou o mercado de capitais internacional para sempre, ao explicitar as falhas na contabilidade e na governança corporativa das empresas. A aprovação da lei “Sarbones-Oxley Act”, que escreveu as regras para a governança corporativa, controles internos, papel da monitoria e divulgação de relatórios financeiros, está diretamente ligada ao caso Enron.
Mais de 20 anos depois, na semana passada, em meio às férias com a minha família, fui surpreendido com a divulgação de um fato relevante pela empresa Lojas Americanas, anunciando inconsistências contábeis que podem chegar a R$ 20 bilhões, disparando o maior escândalo contábil da história corporativa brasileira.
As inconsistências podem ter surgido da vontade dos executivos de inflar o lucro da companhia e omitir a real situação financeira da empresa (muito mais endividada e menos rentável do que os balanços contábeis sugeriam) e foram anunciadas pelo recém-empossado CEO, Sérgio Rial, que pediu demissão na mesma data. Isso mesmo, pediu para sair 9 dias depois de ter entrado!
A queda no preço das ações, esta semana, foi de mais de 85%, caindo de R$ 12 para R$ 1,36 (preço no meio do dia de hoje, 19/01, enquanto escrevo este Diário). A empresa acaba de anunciar que entrou com o pedido de recuperação judicial.
O assunto está longe de ser resolvido. Espera-se que os acionistas de referência (controladores até o fim do ano passado), Jorge Paulo Lehmann, Beto Sicupira e Marcel Telles, sócios da 3G, capitalizem a empresa. Enquanto isso, bancos, a auditora Price Waterhouse e a empresa dão início a uma briga, que deve se arrastar por um bom tempo, em busca dos responsáveis pelo rombo bilionário.
Alguns fundos de ações sofreram quedas importantes, pois tinham AMER3 em suas carteiras. Um dos mais afetados foi o Moat Capital FIC Ações, que caiu mais de 11% desde o evento. Alguns fundos de crédito privado também foram impactados por carregarem debêntures da companhia em suas carteiras. Os papéis foram remarcados para 25% do seu valor de face. Um dos afetados foi o Augme 45 FIRF CrPr, que cai quase 2% desde o anúncio da fraude.
Nenhum dos nossos fundos tinha exposição direta às ações ou debêntures da empresa. Alguns dos nossos FoFs, em especial o FoF MF Conservador e o FoF Prev Conservador, tinham posições em fundos de crédito que, por sua vez, foram impactados. Ambos os fundos estão positivos no mês, porém abaixo do CDI.
Mas o caso mais emblemático foi do fundo de reserva de emergência do Nubank (Nu Reserva Imediata), que também tinha essas debêntures na carteira e cai quase 1%. Você já me ouviu falar várias vezes sobre isso: reserva de emergência tem que estar disponível e não pode correr nenhum risco, ou seja, só vale investir em títulos de Renda Fixa pós-fixados sem risco de crédito. O nosso Empiricus Selic Simples passou ileso porque justamente não tem qualquer exposição de crédito na carteira, e segue como o líder da classe dos fundos Selic Simples com taxa zero.
Ontem falamos bastante sobre isso na Live mensal dos Melhores Fundos: Bruno Mérola, Laís Costa e eu. Vale a pena conferir. Acesse aqui.
Enron enganou milhares de investidores sofisticados; e seus executivos passaram de venerados a condenados. Lojas Americanas enganou milhares de investidores sofisticados e seus executivos e controladores passaram de venerados a malfalados (talvez alguns sejam mesmo condenados, no futuro).
Fraudes sempre vão ocorrer e o mercado vai se ajustando e criando novas camadas de controle e escrutínio. As lições que podemos tirar desses eventos é que, além de sermos diligentes na análise das oportunidades de investimento, só a diversificação nos salva de eventos extremos. E nada mais extremo do que uma fraude, feita para passar despercebida dos radares dos melhores analistas do mercado.
Inscrições abertas para o MBA de Mercado Financeiro
Esta semana, eu e meu amigo Felipe Miranda realizamos a Aula Magna da primeira turma do MBA de Mercado Financeiro, aqui da Empiricus em parceria com a FAAP.
Foi um prazer receber mais de 70 alunos no auditório do BTG Pactual. Aliás, confesso que me senti muito importante por estar ali, sentado no auditório onde costumeiramente ocupo a cadeira de ouvinte.
Foi uma bate-papo bacana, conversamos sobre cenário, sobre o caso da Lojas Americanas e muitos outros assuntos. Não adianta nem procurar, não temos link para disponibilizar desse material porque ele é exclusivo para quem fez parte da primeira turma.
Mas… se você ficou com vontade de fazer parte, corra porque as inscrições para a segunda turma do MBA estão abertas. As aulas começam no dia 6 de fevereiro.
[Proteção] Operações Estruturadas
Seguindo o princípio de enviar a você sempre aquelas operações que realmente acreditamos terem alto potencial de lucro, trazemos hoje um combo de operações estruturadas smart hedge, com função de proteção para seu patrimônio.
Se você é acionista de alguma das empresas abaixo ou deseja tê-las em carteira, então este recado é para você:
1. VALE
2. GERDAU
3. WEGE
4. ITAÚ
5. ELETROBRÁS
Optamos por elaborar uma estratégia para você proteger o seu capital investido nessas ações, sem custo nenhum e, mesmo assim, possa aproveitar a alta dessas empresas em 2023.
Você não precisará desembolsar recursos, já que já possui o ativo em custódia. Ah, aqui vale lembrar também que caso você não tenha nenhum desses ativos, pode realizar a compra e entrar nessa estratégia, também.
Toda essa operação é também fundamentada pelo research do BTG Pactual.
Clique aqui e fale agora mesmo com o nosso time de assessoria.
Nova Plataforma de negociação: TradeMap
Se você é usuário do aplicativo TradeMap, então essa novidade é para você!
Agora você pode negociar através da plataforma utilizando a sua conta da Empiricus Investimentos.
Para habilitar a plataforma, basta clicar aqui.
Caso você tenha alguma dúvida ou sugestão, basta enviar-nos pelo
atendimento@empiricusinvestimentos.com.br.
Até a próxima semana!
Um abraço,
Jojo Wachsmann
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