Diário de Bordo
Deixe os touros correrem…

Eis que finalmente a Bolsa brasileira alcançou novas máximas históricas. Motivado pelos fluxos estrangeiros e apoiado pelos investidores locais, o Ibovespa atingiu os 138 mil pontos e encerrou um drawdown que já se arrastava por quase nove meses. A dispersão de retornos foi o destaque do movimento: enquanto os bancos e as exportadoras aproveitaram a maré compradora, papéis ligados ao consumo doméstico ainda engatinham. O bull market parece ter chegado — mas ele veio sem avisar e com poucos passageiros a bordo.
A cereja do bolo veio de fora: depois de meses de tensão, EUA e China anunciaram um acordo preliminar para reverter parte das tarifas impostas na guerra comercial. Ainda é cedo para cravar que o risco geopolítico se dissipou, mas o gesto bastou para reanimar o apetite ao risco. O dólar cedeu terreno, o ouro recuou, e as bolsas globais respiraram aliviadas. Quando os gigantes se entendem, o resto do mundo agradece.
Nesse pano de fundo mais leve, os mercados voltaram a olhar para a tecnologia com carinho. Empresas ligadas à inteligência artificial — que vinham lateralizadas desde fevereiro — voltaram a subir, embaladas por novos anúncios de investimento e resultados acima do esperado. A narrativa da “IA como motor de crescimento secular” ressurge, talvez não com a força de janeiro, mas com convicção renovada. O ciclo não morreu — só cochilava.
Do lado doméstico, a temporada de resultados trouxe nuances importantes para além do índice. A Embraer entregou um trimestre forte, com aumento de 44% na receita líquida e crescimento robusto na aviação comercial, além de surpresas positivas em termos de pedidos na divisão de defesa.. A Porto Seguro manteve margens sólidas, mesmo em meio à pressão de sinistralidade, e demonstrou avanços nos segmentos de saúde e serviços financeiros. A Rede D’Or seguiu seu processo de expansão com disciplina: mais leitos, maior ocupação e sinergias oriundas das aquisições passadas. Já o Mercado Livre, ainda que impactado por maiores investimentos logísticos, mostrou crescimento expressivo no volume bruto de mercadorias e evolução consistente no braço de serviços financeiros.
Esses são alguns dos ativos que compõem o fundo Empiricus Deep Value Brasil, cuja proposta se apoia justamente na seleção criteriosa de empresas com assimetrias favoráveis e boa execução. Nos últimos 24 meses, o fundo acumula alta de cerca de 37% até maio de 2025, contra pouco mais de 28% do Ibovespa no mesmo período — um alfa de 9 pontos percentuais. Em um cenário que alterna otimismo e cautela, a consistência da gestão ativa continua sendo nosso principal ativo.
Esse movimento de retomada não nos é estranho. Em minha dissertação de mestrado, no início da década passada, estudei o comportamento dos fluxos de capital estrangeiro em mercados emergentes, com foco especial na América Latina. A dinâmica observada então — e que se repete agora com variações de intensidade — revela um padrão recorrente: o capital internacional tende a chegar em ondas, impulsionado mais pelas condições globais de liquidez e apetite ao risco do que por uma avaliação profunda dos fundamentos locais.
Os fluxos massivos geram distorções de curto prazo, nivelando ativos de qualidades muito distintas. No primeiro momento, tudo sobe — o que importa é o “beta” regional. Mas assim que a maré estabiliza, o investidor estrangeiro começa a discriminar: busca nomes com governança sólida, crescimento sustentável e margens consistentes. É aí que entra o verdadeiro trabalho do gestor: identificar, antes do fluxo, as empresas que vão sobreviver à peneira.
Esse é o nosso ofício no Empiricus Deep Value Brasil. Acreditamos que, passada a euforia, é o processo de seleção — cuidadoso, fundamentado, quase artesanal — que define a geração de alfa no longo prazo. Comprar boas empresas, com assimetrias favoráveis e capacidade de execução, é o que de fato importa quando a poeira baixa e a racionalidade volta à mesa. Seguimos na mesma toada: atentos aos ruídos, mas comprometidos com os fundamentos.
O comportamento dos mercados em maio
Maio tem sido um mês de retomada para os mercados globais, com destaque para o desempenho das bolsas americanas. Até o ontem (14), o S&P 500 acumulava alta de 5,5%, o Nasdaq avança 8,9% e o Dow Jones sobe 3,4% no mês. Esses movimentos refletem o alívio proporcionado pela trégua comercial entre EUA e China, além de resultados corporativos positivos, especialmente no setor de tecnologia.
No campo macroeconômico, os Estados Unidos apresentaram uma inflação anualizada ao consumidor (CPI) de 2,3% em abril, a menor em quatro anos. No entanto, analistas alertam que essa queda pode ser temporária, dado o impacto contínuo das tarifas comerciais e possíveis repasses de custos pelas empresas. O índice de preços ao produtor (PPI) mostrou uma deflação de 0,5% na comparação mensal para o mês de abril.
Mesmo diante da continuidade do processo desinflacionário, o Federal Reserve mantém uma postura cautelosa. Tal qual em outros momentos do passado, Powell aguarda sinais mais claros da economia antes de tomar novas decisões, especialmente diante das incertezas geradas pelas políticas comerciais e fiscais. As taxas de juros de longo prazo, como o rendimento dos Treasuries de 10 anos, continuam elevadas, situando-se em torno de 4,5%. Essa persistência traz uma certa dicotomia em relação à leitura majoritária de desaceleração da economia, ou de uma eventual recessão à frente.
No cenário doméstico, o IPCA de abril registrou uma leve alta, atingindo 5,53% em termos anuais, acima dos 5,48% de março. A ata do COPOM sinalizou o fim do ciclo de alta de juros, com a taxa Selic mantida em 14,75% ao ano. O comitê enfatizou a necessidade de cautela, observando os efeitos defasados da política monetária e as incertezas fiscais. Por ora, a resposta dos investidores tem sido bastante leniente: a estrutura a termo da curva de juros já cedeu e abriu espaço para ganhos interessantes nos instrumentos prefixados e atrelados aos juros reais neste ano.
De volta aos mercados internacionais, os destaques do mês foram os fundos de tecnologia. O Empiricus Tech Bets FIF Ações, em especial, acumula alta superior a 6% no mês (em reais), impulsionado pelo forte desempenho das companhias ligadas ao e-commerce e pelo renovado interesse em inteligência artificial. Também merece menção o bitcoin, que voltou ao radar dos investidores e ultrapassou novamente os US$ 100 mil, refletindo o otimismo com o ambiente regulatório e a adoção institucional.
Ainda é cedo para decretar euforia, mas os sinais são claros: o bull market acordou, e para quem souber manter a disciplina e a paciência, os próximos capítulos prometem ser generosos como sempre.
Forte abraço,
João Piccioni
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