Diário de Bordo

“Insurance Cut”; A tentativa de assassinato; JD Vance

João Piccioni

17 jul 2024, 14:08 (Atualizado em 15 ago 2024, 14:09)

Por um centímetro e a história desta edição do Diário de Bordo teria sido bastante diferente. No sábado (13), a tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump tomou as manchetes dos jornais. Sua foto ao lado da bandeira americana com o sangue no rosto, reforçou a sua (até então questionada) liderança na corrida pelo pleito de novembro. Apesar dos efeitos inócuos nos mercados acionários (até aqui), a hipótese reforçada da vitória do republicano amplia o leque de vetores positivos para a continuidade do Bull Market.

Além de uma plataforma favorável ao mundo corporativo, especialmente sob a ótica tributária, um eventual governo Trump poderia sinalizar maior desregulação para determinadas classes de ativos — leia-se criptoativos —; suporte para o setor bancário, que ainda se vê às voltas com regras bastante restritivas; e, também, um maior estímulo para a exploração de recursos naturais e para a indústria no país. Neste sentido, outros segmentos da economia local, além da tecnologia, acabarão atraindo recursos e provocando, de certa forma, uma maior dispersão nos retornos da Bolsa americana.

Ainda em relação aos eventos políticos, vale mencionar a escolha feita por Donald Trump para ocupar uma eventual vice-presidência do país. JD Vance, senador pelo estado de Ohio, possui um histórico de investidor e já levantou algumas centenas de milhões de dólares para alguns fundos de investimentos em tecnologia. Apesar das posições polêmicas relacionadas às Big Techs, Vance possui um olhar favorável para as start-ups e terá capacidade para fomentar novas frentes de negócio na economia americana.

Do lado da política monetária, o discurso mais dovish feito recentemente por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, também agradou os investidores. Definitivamente, ele está decidido a reduzir as taxas de juros nos EUA, mesmo em meio às poucas justificativas para fazê-la. Apesar dos dados da inflação (CPI) de junho terem mostrado um bom arrefecimento, sua queda se deveu bastante aos preços dos combustíveis, tradicionalmente volátil nessa época do ano. Do lado da atividade, a economia do país continua forte mesmo com a política monetária mais restritiva. Sua saída seria justificar a redução da taxa de juros como um clássico “insurance cut” (corte de segurança).

Tal decisão em uma das duas próximas reuniões (julho ou setembro) abriria uma brecha para o Fed respirar e avaliar o caminho para o afrouxamento da política monetária com mais tranquilidade. A impressão é mesmo de que os juros elevados já não causam tanto efeito nos preços e carregá-los por um longuíssimo período de tempo, neste momento, teria um efeito deletério na economia. Juros mais próximos da casa dos 3,5% ao ano seriam mais razoáveis — estimativas para o final de 2025.

A dinâmica inflacionária pelo mundo afora também perdeu tração. A fraqueza das principais economias emergentes (aqui a única exceção é a Índia) e os passos mais lentos dos desenvolvidos tornam a decisão do Fed ainda mais fácil. As implicações seriam favoráveis, ao passo que os juros mais baixos nos EUA retirariam a pressão do dólar frente às demais moedas, trazendo alívio para os demais bancos centrais. O cenário do “soft landing” voltou com força para os portfólios. Tomando emprestada a ponderação do Bank of America (e rememorando o Diário de Bordo do dia 14 de fevereiro — Os pregos e os parafusos do Goldilocks. Será mesmo que ele está sob risco?), os Goldilocks estão mais do que vivos.

Diante desse quadro mais positivo, o bom início da temporada de resultados nos EUA acabou ficando em segundo plano. Os resultados melhores que o esperado no setor financeiro, por exemplo, ganharam a marca do “trump trade”.  As small caps americanas voltaram ao radar e o índice Russell 2000 — composto pelas duas mil menores companhias da bolsa americana — sobe inebriantes 12% desde o fatídico debate entre os candidatos. Parte do fluxo que era fortemente direcionado para as big techs começa a ser direcionado para outras frentes, dando fôlego para uma maior tomada de risco.

Por aqui, os memes envolvendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm ganhado tração. As discussões no Congresso sobre a reforma tributária estão mais quentes do que nunca. Tal reforma é essencial para nosso país e deve ao menos gerar um norte para o equilíbrio das nossas contas públicas, além de liberar espaço para o avanço do mundo corporativo, que sempre se vê enroscado com o peso morto provocado pelos impostos.

Inclusive, a leitura menos negativa sobre a dinâmica econômica brasileira abriu espaço para a retomada da Bolsa brasileira, que voltou a tocar os 130 mil pontos. O exagero no final de junho era bastante evidente e as oportunidades estavam postas à mesa. A retração da curva de juros brasileira para níveis mais aceitáveis também gerou um fôlego extra e ensinou mais uma vez que algumas oportunidades envolvendo juros reais não podem ser desperdiçadas. Apesar das idas e vindas, continuo construtivo com os ativos de risco brasileiros.

O comportamento dos mercados em julho e os ajustes nas carteiras

Finda a primeira metade do mês de julho, os principais índices americanos ainda mostram bom desempenho. Até ontem (16), o índice S&P 500 avançava 3,8%, enquanto o Nasdaq subia 4,4%. Por aqui o Ibovespa marcava valorização de 4,2%. O desempenho positivo também era espraiado para as demais regiões do globo, com exceção da China, preterida por conta dos números mais fracos da economia.

Ao longo dessas últimas semanas fizemos alguns ajustes nos portfólios da casa. Nos fundos de tecnologia, fizemos ajustes pontuais de rebalanceamento e, também, trouxemos para a carteira do Empiricus MoneyBets os casos da Lam Research, Vistra e Nubank. A primeira detém uma ligação intrínseca com o mundo dos semicondutores, enquanto a segunda está ligada à questão da geração de energia para os datacenters que rodam as aplicações de IA. Já o Nubank não requer apresentações, mas a leitura do negócio nos últimos trimestres é positiva.

Aliás, as ações do Nubank também entraram no portfólio do Empiricus Deep Value Brasil. Tal alocação pode suscitar algum inconformismo para aqueles mais radicais em relação a leitura do que é investimento em valor, mas do meu ponto de vista, as “ilhas de liquidez” presentes na bolsa brasileira precisam ser aproveitadas a todo custo. O mesmo vale para a recente aquisição das ações da Embraer, cujo espaço no setor de aviação parece mais bem consolidado. De fato, a companhia se tornou um player importante e relevante o suficiente para incomodar os concorrentes e “reinar” praticamente absoluta em seu nicho de mercado.

Do lado dos fundos multimercados e de renda fixa, vale mencionar o aumento da participação nos títulos ligados aos juros reais brasileiros, cujas taxas aumentaram substancialmente em meio à turbulência recente no país. Em especial nos fundos de previdência, Empiricus Global Real Return Prev FIM e Empiricus Renda Fixa Ativo Prev FI RF, aumentamos momentaneamente os pesos nesses ativos e estamos escolhendo a dedo os títulos com melhor remuneração, ao mesmo passo do avanço das captações.

Já o bitcoin retomou os US$ 65 mil, impulsionado pelo final das vendas forçadas do governo alemão e, também, pela corrida ligada ao início das operações dos ETFs de Ether, que devem acontecer em breve. O salto veio em conjunto com as notícias do front político, mas, do meu ponto de vista, aconteceria de qualquer forma. Os US$ 100 mil parecem mais próximos. Como sempre, à conferir.

Forte abraço,

João Piccioni

PS1: A hora é de empilhar na renda fixa atrelada à inflação. Especialmente nos fundos de Previdência. Em nosso fundo Empiricus Renda Fixa Ativo FI RF Prev, estamos aproveitando o momento para comprar títulos atrelados à inflação com taxas reais ao redor dos 6,3% ao ano. Como o fundo está em fase de acumulação, o momento parece bastante positivo. Especialmente quando olhamos sob a ótica do longo prazo e dos benefícios fiscais atrelados à classe do fundo.

PS2: O mesmo vale para o Empiricus Global Real Return FIM IE. Este veículo de previdência, destinado para investidores qualificados, guarda o poder do balanceamento entre a alocação em títulos atrelados à inflação (boa hora para comprar) — 60% da carteira — e o ETF WRLD11 da Investo, cuja composição guarda alocações em ações globais — 40% da carteira —, que no longo prazo devem continuar a trazer inovações e valor para portfólios em construção (e para sua futura polpuda aposentadoria) – no Diário de Bordo do 26.06.2024, abordei em detalhes a sua estratégia: leia aqui.

Para conhecer mais sobre os produtos, acesse o site www.empiricusgestao.com.br

Apresentamos a seguir a tabela contendo os resultados das principais estratégias da casa, nas janelas mensal, anual, semestral e anual. Caso você deseje conferir algum outro fundo que não esteja presente nesta lista, visite o nosso site: www.empiricusgestao.com.br.

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