Diário de Bordo
Macro Day – Para onde estamos indo?
O Diário de Bordo de hoje é um pouco diferente. Passei o dia no evento “Macro Day 2022”, organizado pelo BTG, com vários painéis abordando o cenário econômico aqui e no exterior. Divido aqui com você, “quase ao vivo”, os principais assuntos e as opiniões dos ilustres palestrantes.
Foram 10 painéis, sendo 3 deles com candidatos ao governo de São Paulo e um com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Sobre esses 4 painéis com tema político eu prefiro não falar aqui neste texto, para manter o foco na questão do cenário econômico e nos riscos e oportunidades que estão à nossa frente.
A primeira conversa foi com o ex-presidente da filial de NY do Fed (Banco Central americano), William Dudley. Na opinião (pessimista) do economista, o Fed foi lento em reagir à alta da inflação e agora o remédio (subir juros) será mais longo, “higher for longer” (juros mais altos por mais tempo). Segundo ele, a inflação é mais abrangente do que apenas um problema na cadeia de produção. Ele entende que o mercado está errado ao usar o último ciclo como exemplo para o ciclo atual, estando, por isso, com uma expectativa otimista de um “soft landing” (desaceleração mais tranquila da economia). Na opinião dele, os preços seguem altos em todos os segmentos e o Fed precisa reduzir o ritmo da economia de modo suficiente para aumentar o desemprego – coisa que ainda nem começou a ser feita – (a inflação de salários está alta enquanto o resto da inflação apenas caiu com a queda recente dos preços de energia. Com isso, o risco de um “hard landing” é grande, “… não estamos em recessão ainda (apesar de alguns números da economia indicarem isso), mas não tem como não cair em uma recessão mais à frente”. Única coisa boa é a confiança que as pessoas têm no Fed, medida pela expectativa de inflação futura que ainda está baixa (ancoragem).
No segundo painel, os holofotes estavam sobre a Daniella Marques, presidente da CEF e o Gustavo Montezano, presidente do BNDES, para falarem da atuação do governo nos bancos públicos. BNDES no atacado e CEF no varejo. E eles brilharam. Mostraram, de forma clara, a linha mestra do governo em equilibrar a eficiência alocativa dos recursos do banco público em políticas de estímulo, mas com responsabilidade sobre o impacto dessas políticas para o suporte às pessoas que não são muito bem suportadas pelo restante do sistema financeiro. Criticaram a utilização dos bancos estatais para subsidiar os “campeões nacionais”. O foco é suportar o maior número possível de pessoas e microempresas (os “heróis nacionais”), que, com um direcionamento de recursos públicos, tem um efeito multiplicador enorme no crescimento econômico e na inserção dessa massa enorme de gente, na economia.
Montezano, que está à frente do BNDES desde 2019, falou dessa transformação de filosofia. O banco era o monopolista que entregava subsídios, com foco no beneficiário e não no cliente. Não assumia nem gerenciava risco e não tinha nenhum incentivo a inovar. Passaram por um choque de governança. Desmobilizaram o balanço do banco e democratizaram o acesso ao crédito.
Já a Daniella, a quem eu conhecia de outros carnavais, quando ela foi sócia de algumas gestoras no Rio, deu um show. Falou do processo de bancarização digital dos 38 milhões de brasileiros na base da CEF, durante o auxílio à pandemia, e da preocupação com a vocação de educar financeiramente esse público e inseri-lo no mercado de trabalho formal e financeiro. Ela falou também do papel das mulheres na economia e no mercado. “Mulheres não foram convidadas para o shopping financeiro, mas a CEF está de olho nisso”.
Fechando a parte da manhã do evento, o entrevistado foi o presidente do nosso Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele primeiro mostrou uma atualização da apresentação que ele normalmente faz em eventos como esse. Lembrou que o BC brasileiro foi um dos primeiros a apontar que a inflação seria mais persistente e por isso subiram juros antes que outros bancos centrais. Segundo ele, o mercado internacional “se acalmou”, nas últimas semanas, pelo movimento sincronizado dos bancos centrais que apertaram as condições financeiras, mas a China desacelerando forte talvez tenha sido o principal motivo para a queda nas expectativas de crescimento global, inflação e taxa de juros terminal (o patamar das taxas de juros quando os bancos centrais pararem de subir os juros). De certa forma, ele concorda com a visão do Bill Dudley, ao dizer que o mercado pode voltar a ficar nervoso se o período de reprecificação de crescimento para baixo e juros altos for mais longo, uma vez que a inflação se acalmou por conta da queda nos preços de energia, sem qualquer mudança em empregos e salários.
Ele terminou dizendo que se o país seguir fazendo o dever de casa fiscal, com uma política monetária com cautela, o fluxo de recursos tende a ser positivo para o Brasil; “investidores estrangeiros estão voltando”. E para quem sonhava em vê-lo reconduzido ao posto de presidente do BC em 2025, ao final do seu mandato, ele foi categórico: “Votei contra a possibilidade de recondução (um tipo de reeleição) do presidente do BC, para não perder autonomia”.
Após o almoço, as atenções se voltaram para o André Esteves. Começou falando do cenário global. Desafio de enfrentar a inflação é muito grande e o Fed demorou para reagir. Tem recalibrado, mas continua atrasado. Powell (o presidente do Fed) é mais generalista e assim se comunica muito bem com o Congresso americano, mas não tão bem com o mercado.
Memória recente dos últimos 15 anos enviesa a leitura do Fed e do próprio mercado, que parece estar excessivamente otimista, muito “conto de fadas”. Esteves acredita que vamos ter que passar por um aperto mais forte, vai ser preciso algum sacrifício.
O movimento de desglobalização, com as cadeias de produção se reorganizando, buscando maximizar outros objetivos além de redução de custo, pode ser positivo para o Brasil, que, “se tiver juízo institucional”, reúne todas as condições para atrair capital estrangeiro. Esse movimento, entretanto, tem impacto geopolítico, levando a uma queda na produtividade, e assim não deixa de ser mais um foco de pressão inflacionária. O fluxo de investimentos que vinha para países emergentes migrou nos últimos anos para o setor Tech americano. Hoje, os ativos na Bolsa brasileira estão muito baratos, o país deixou de ser um investimento de growth e passou a ser de yield.
Setor imobiliário na China enfrentando problemas estruturais, semelhante à crise bancária na década de 90. Aquela, eles enfrentaram bem. China tem controles e condições para contornar a crise. Mas este governo parece ter outros objetivos, querendo orientar o setor imobiliário para moradias mais simples e aluguéis.
Esteves falou também do financial deepening (aumento da diversidade e do aprofundamento dos serviços financeiros na sociedade). Taxa de juros civilizada é o maior estimulador de investimento que existe, independente de vontades individuais ou gerais. Viver com taxa de juros de 1 dígito já será uma enorme conquista. “Se a taxa de juros for 6% ao ano, o Brasil vai voar, gerar emprego, oportunidades e riqueza”. Para isso basta cuidar da educação e manter o bom senso institucional.
Esteves fechou falando que a eleição deste ano é diferente no sentido de ser muito menos maniqueísta do que todas as outras, e o reflexo disso é a menor volatilidade dos mercados pré-eleição desde a redemocratização. Segundo ele, as taxas de juros no Brasil já chegaram no seu pico e agora ele vê espaço para valorização: “teremos um rally de preço pós-eleições”.
A principal atração da tarde foi a conversa entre o Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG, com o Ministro da Economia Paulo Guedes. Com seu tradicional discurso otimista, o Ministro começou discursando sobre as reformas feitas nestes últimos 4 anos. Afirmou que tivemos uma mudança de eixo dos últimos 40 anos, de uma economia dominada pelo Estado para uma economia de mercado. Os gastos do Estado foram controlados e a reforma trabalhista foi aprovada.
Infelizmente, perdemos a oportunidade de realizar a reforma tributária, com a pandemia. A janela política, que dá o timing para as reformas, se fechou com a mudança de foco no Congresso para combater a Covid e seus efeitos na economia. Sobre o Auxílio Brasil de R$ 600, ele defendeu que atender às necessidades de uma democracia emergente não é populismo. Renda básica sempre esteve na pauta do governo, a pandemia só acelerou o gatilho e esse foi o maior valor possível.
Segundo ele, todos esses gastos foram feitos dentro da responsabilidade fiscal, com o teto dos gastos sendo “pontualmente retrátil”. Mesmo com a pandemia, houve uma melhora no déficit fiscal se comparado com o início de mandato. O indicador dívida/PIB piorou pouco, de 73,5% para 78,2%, um efeito muito pequeno se comparado com o que aconteceu com outras economias do mundo.
Outro grande esforço do Governo está em desindexar, desvincular, desobrigar (os “3 Ds”) a economia, dado que só 4% do orçamento é de fato livre. O câmbio deveria estar “lá embaixo”, mas com a barulheira atual está em um patamar justo. Mencionou ainda que existem inúmeros investimentos já contratados em todos os setores para os próximos quatro anos, principalmente nas áreas alimentar e de energia.
”Existe uma grande possibilidade do Brasil ser um outperformer nos próximos 10 anos. O Brasil está decolando e o Congresso é reformista!”, finalizou.
O último painel, com um bate-papo com os economistas e estrategistas do BTG, só começaria depois do horário limite para eu terminar este texto, então ele também ficou de fora. Espero que você tenha curtido essa “transmissão quase ao vivo” de um evento superinteressante como esse.
Novidades da Prateleira
Tivemos duas novidades na prateleira nesta semana.
O primeiro é o Daemon Nous Global, da gestora estreante Daemon. O fundo sistemático global vem apresentando um excelente retorno desde o seu início em 2020, com retorno de 404,86% do CDI.
A outra novidade é o Sparta Debêntures Incentivadas 45, que abriu após a versão D30 ser fechada para captação. Isento de imposto de renda para pessoa física, o produto tem retorno de 126,57% do CDI desde o seu início.
Pergunte ao Jojo
O MAM mudará de nome, e será chamado de Money Rider Ações Dinâmico. A alocação será apenas em ações, seguindo as ideias do Money Rider, mas apenas na classe específica de ações.
Ofertas Públicas
RBRY11 – RBR Crédito Imobiliário Estruturado FII – 5ª Emissão
RBRY11 é fundo de investimento imobiliário focado em títulos de dívida imobiliária e outros valores mobiliários, estruturando operações com ótima relação de risco x retorno no médio/longo prazo, seja indexadas ao CDI ou a inflação. Com o aumento dos juros e diminuição da liquidez disponível no mercado, a gestora RBR Asset enxerga ótimas oportunidades de investimento.
Quero investir
Encerramento das reservas: 26/08/2022 | Liquidação: 31/08/2022 | Investimento mínimo: 01 cota | Valor indicativo: R$ 101,86
JURO11 – Sparta Infra FIC FI Infra RF CP – 3ª emissão
JURO11 é um fundo de renda fixa que investe recursos principalmente em debêntures de empresas do setor de infraestrutura, com distribuição periódica de rendimentos e atrelado à inflação, dessa forma, há isenção total de IR (rendimento e ganho de capital) para pessoas físicas.
Quero investir
Encerramento das reservas: 29/09/2022 | Liquidação: 06/10/2022 | Investimento mínimo: 01 cota | Valor indicativo: R$ 103,39
Renda Variável
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Até a próxima semana!
Um abraço,
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