O Fogão líder e o mercado selvagem: um jogo de surpresas

E o Fogão, hein? 

Disparou na liderança do Brasileirão com uma vitória fora de casa contra o Palmeiras, atual campeão brasileiro e paulista. 

Quem imaginaria que, passados quase um terço do campeonato, o Botafogo abriria 7 pontos para o Grêmio de Suárez, e 8 pontos para o atual campeão da Libertadores Flamengo e o próprio Palmeiras? 

No começo do campeonato o time nem constava entre os favoritos. Perdeu para o (fortíssimo) Volta Redonda a vaga para as semifinais do (disputadíssimo) campeonato carioca, ganho pelo Fluminense, atual quinto colocado e distantes 9 pontos do Botafogo. 

Após 12 rodadas, o Botafogo tem a terceira maior pontuação e a segunda maior folga na liderança desde o começo do sistema de pontos corridos em 2003. 

Faz bastante tempo que não vejo um campeonato tão dominado por uma zebra, talvez até mais tempo que meu time tenha ganho algo de útil. 

O futebol seria mais interessante se todo campeonato fosse imprevisível assim. Mas o que nunca conseguimos prever mesmo é o nosso querido mercado financeiro. 

E esse ano, apesar de um cenário um pouco menos turvo, o mercado está fazendo tudo para fazer jus à sua fama.  

O Real começou uma trajetória forte de valorização, superando as expectativas. Uma valorização de mais de 6% no mês e 10% no ano! 

Os economistas já correm atrás e revisaram sucessivamente suas previsões para o final de 2023 que, segundo o Relatório Focus do Banco Central estavam em 5,20 no final de abril e no último relatório desta segunda-feira já apontavam para 5,00. 

A Bolsa brasileira, medida pelo Ibovespa, ensaiou um rali, mas parece ter furado o pneu em algum momento (ou parado para colocar mais gasolina). 

Após ter subido mais de 11% em junho e atingir os 120 mil pontos na quarta-feira passada, faltou força e ela caiu de volta para os 118 mil em vez de buscar os 130 mil pontos (o recorde atingido em junho de 2021). 

Já a bolsa norte-americana, que já estava supervalorizada, ficou mais cara ainda. Mesmo com os problemas bancários, inflação resistente e juros que devem ficar alto por um bom tempo (com a opção ainda de aumentar um pouco). Resiliência ao extremo. 

O índice S&P 500 sobe quase 4% no mês, com uma forte alta de 13% no ano. Não faz muito sentido a bolsa dos EUA estar ganhando da brasileira, principalmente por estarmos na iminência de começarmos a baixar os juros. 

Falando em juros, não podemos reclamar da curva, que teve um movimento forte de queda, principalmente nos vencimentos mais curtos. Pelo menos esse movimento estava esperado. 

A taxa com vencimento em janeiro de 2026 caiu de 10,87% para 10,35% em junho, estando em seu patamar mais baixo desde o início de 2022. 

Na quarta-feira passada tivemos a decisão do COPOM que manteve os juros inalterados conforme amplamente esperado. 

O comunicado para mim também foi conforme esperado. O BC retirou palavras mais “duras”, mas não deixou claro que irá abaixar os juros na próxima reunião no início de agosto. 

É interessante notar que o próprio comunicado teve uma leitura distinta pelos diferentes players de mercado, inclusive surpreendendo os mais otimistas. 

O que contribui para a imprevisibilidade do mercado é exatamente essa subjetividade na análise dos diferentes temas e acontecimentos.  

Afinal, o “mercado” é feito de pessoas, com toda a bagagem de erros cognitivos e vieses emocionais que sempre carregamos conosco. 

No curto prazo o movimento dos ativos acaba sendo mais incerto ainda. Mas no longo prazo a convergência para os fundamentos é mais provável. É aqui que temos que focar. 

Por isso que ainda acredito que o meu querido tricolor paulista voltará a seu tempo de glória! 

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Um abraço, 

Rodrigo Knudsen