Diário de Bordo

Os caminhos divergentes na política monetária: Brasil e EUA em direções opostas?

João Piccioni

22 ago 2024, 12:11 (Atualizado em 22 ago 2024, 12:11)

Gerado por IA – MidJourney

As pernas do afrouxamento monetário brasileiro perderam o fôlego. Nas últimas semanas, nomes renomados do mercado financeiro brasileiro voltaram a apostar em movimentos de alta de juros. Em contraponto à flexibilização provável dos mercados desenvolvidos, o coro de vozes prevendo (ou seria desejando?) um aumento da taxa Selic ganhou volume. Os argumentos para tal movimento incluem as preocupações com a inflação local, que tem mostrado alguns sinais de resiliência, e incertezas quanto à trajetória fiscal do país. O IPCA de julho, que veio acima das expectativas, adicionou lenha a essa fogueira.

Entretanto, é crucial questionarmos se esse movimento faz sentido no contexto atual. A atuação vocal dos líderes do Banco Central Brasileiro trouxe confusão ao ambiente. Talvez, a postura cautelosa tenha ido longe demais, ao sinalizar a possibilidade de reversão do ciclo de cortes. Especialmente porque os comentários foram feitos em uma janela que agregou o estresse dos mercados globais e, também, os questionamentos associados à política fiscal brasileira.

Diante da análise acima, a impressão é que a releitura do processo desinflacionário em curso no hemisfério norte ficou escanteada. O Federal Reserve, após um longo ciclo de aperto monetário, tem dado sinais cada vez mais claros de que o pico das taxas de juros deve ficar para trás. Inclusive, o simpósio de Jackson Hole, que começará hoje, promete pistas importantes sobre as direções futuras da política monetária americana.

Este encontro anual reúne banqueiros centrais, formuladores de políticas e economistas de renome mundial, cada um empunhando suas análises como espadas em um duelo de ideias. O discurso de Powell é aguardado com expectativa quase teatral. Dados os sinais de recentes o “Insurance Cut” é dado como praticamente certo. A análise do que virá após essa primeira decisão, ficará para os momentos seguintes.

Esta divergência entre as expectativas do comportamento das taxas básicas para Brasil e EUA deveria criar um ambiente favorável para o fluxo de capital. A leitura de primeiro nível é que a retomada do processo de alta de juros locais poderia deflagrar a recuperação do real frente ao dólar e, assim, apaziguar os ânimos de curto prazo relacionados à inflação na reta final do ano e para o início de 2025. Entretanto, dado os juros reais elevados da economia brasileira e as expectativas ancoradas do IPCA para o ano que vem, mesmo que próximas à banda superior da meta, o espaço para se elevar os juros parece limitado e fadado a colocar um freio em uma economia que ainda não alcançou a velocidade de cruzeiro.

Deixando de lado eventuais choques exógenos nos preços do barril de petróleo, a leitura da desaceleração econômica norte-americana já tem gerado efeitos negativos nos preços das commodities. Em paralelo, o compasso mais lento proveniente da economia chinesa e a redução dos estoques de alguns metais, tem derrubado os preços nos mercados internacionais. O exemplo mais claro desse movimento pode ser detectado no Cobre e Aço. Diante desse quadro, os sinais para um retorno robusto da inflação parecem irrazoáveis.

Tabela 1 – Retorno dos preços em dólar das principais

E sem tração econômica, não haveria razão para preocupações maiores para justificar a continuidade do processo inflacionário. Neste sentido, uma eventual decisão de aumento de juros no COPOM poderia enterrar a retomada recente do apetite dos investidores por ativos de risco brasileiros. Uma taxa Selic de 12% como alguns economistas já projetam, aumentaria substancialmente o custo de oportunidade das ações, por exemplo, além de voltar a incomodar o fluxo de caixa com o aumento do serviço da dívida.

Diante desse quadro um tanto quanto incômodo (um erro na sinalização) para a política monetária brasileira, e apesar da estrutura a termo da curva de juros ainda apontar para níveis de juros inferiores à esses 12% ao ano, aproveitamos o ensejo para reduzir o nosso posicionamento em juros reais e prefixados. Ainda tenho dúvidas se esses prognósticos se justificam (e se param de pé), mas o efeito reverberante do coro das vozes deve ganhar força nas próximas semanas. Como sempre, na gestão de recursos, a chave está na diversificação e na constante reavaliação do cenário. Os próximos meses prometem ser interessantes, com a dança das cadeiras monetárias a pleno vapor.

O comportamento dos mercados em agosto

Sem sombra de dúvidas, a reação dos mercados acionários americanos neste mês de agosto merecem atenção. O regime explosivo da volatilidade visto no início do mês, provocado pela ruptura do carry trade japonês, ficou para trás. O VIX voltou rapidamente para baixo dos 20 pontos e selou a recuperação dos investidores que se mantiveram firmemente alocados. No fechamento de ontem (22), em dólares, o S&P 500 e o Nasdaq-100 avançavam 1,78% e 2,39%, respectivamente.

Movidas por um comportamento técnico, as ações americanas voltaram a chamar atenção. O setor de tecnologia, em especial, já viu seus principais nomes voltarem a se aproximar das máximas históricas. o tour da Nvidia foi o mais brutal. Das mínimas às máximas, as ações chegaram a subir 43%, ratificando a sua posição e recobrando dos investidores afoitos em declarar a “morte” dos investimentos em IA.

Por aqui, o Ibovespa também decolou. Pelo terceiro mês consecutivo, a bolsa brasileira caminha em território positivo. Desta vez, a retomada foi generalizada e tanto as large caps quanto as small caps deram os primeiros sinais de vida no ano. Como havia reforçado pela última vez no Diário de Bordo do dia 19 de junho, o descolamento entre os mercados acionários não costuma durar muito tempo, especialmente se os fundamentos econômicos prevalecerem. O caminho parece livre para o Ibovespa bater novos recordes e para o índice de Small Caps recuperar suas perdas do ano.

Passada a primeira metade do mês, o quadro para os fundos de investimento da casa melhorou. Os fundos internacionais aos poucos recuperam as perdas construídas na primeira semana do mês e caminham em direção ao território positivo. Nesse ínterim, destaque para o Empiricus MoneyBets FIA BDR Nível I já se firmou no campo positivo, puxado pelas ações da AppLovin, Nubank, Nvidia e Intuitiva Surgical. Nos últimos dias, adicionamos à carteira as ações do Uber, que deve ser uma grandes beneficiadas com o avanço das frotas de Robotaxi da Waymo e da Tesla; da Boston Scientific, e da Cameco, mineradora e enriquecedora de urânio.

Do lado dos multimercados, o destaque continua com o Empiricus Carteira Universa FIM, que vem recuperando rapidamente o espaço perdido na primeira metade do ano. O bom desempenho do book de ações é o responsável aqui, puxado pela excelente arrancada das ações do Grupo SBF. Essa é uma tese relativamente antiga, que agora começa a dar bons frutos. No fechamento da cota do dia 20, o fundo avançava 3,49% no mês.

Já na renda variável, tanto o Empiricus Oportunidades de uma Vida FIA quanto o Empiricus Deep Value Brasil FIA têm mostrado bom desempenho. No primeiro os destaques também vem das ações do Grupo SBF, B3 e BTG Pactual; enquanto no segundo, o bom desempenho se deve às ações da Rede D’Or, Nubank, Multiplan e Cyrela.

Olhando para a reta final do mês, o caminho parece continuar livre para as ações trazerem mais retorno aos investidores. O nível de tensão pode começar a esquentar na virada do mês de setembro, quando forem divulgados os indicadores derradeiros para as tomadas de decisão dos banqueiros centrais. Lá fora, essa discussão ganhará também as cores dos debates presidenciais, que por sua vez, podem deflagrar nas ações americanas o retorno para as small caps e mais um rotation trade. Mas vou deixar a construção dessa mini-tese para a próxima edição.

Forte abraço,

João Piccioni

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