Diário de Bordo

Um adendo ao Outlook de 2025

João Piccioni

19 dez 2024, 10:42 (Atualizado em 19 dez 2024, 10:42)

Enquanto preparava o nosso cenário base para 2025, uma analogia interessante me veio à cabeça: será que estamos diante de um novo 2021? Aquele ano foi um verdadeiro divisor de águas para o setor de tecnologia, redefinindo completamente a visão dos investidores sobre inovação, disrupção e oportunidades de investimento. Nas próximas linhas, pretendo explorar esse paralelo, mostrar os pontos em comum e trazer um adendo ao nosso Outlook 2025, divulgado no começo da semana. 

O ano de 2021 foi prolífico para as Bolsas americanas. Puxadas pelas Magnificent Seven, os índices S&P 500 e Nasdaq-100 fecharam o ano nas suas máximas e entregaram aos investidores retornos na casa dos 26% em dólares. As ações de companhias como Nvidia, Google, AMD, Tesla, entre outras, apresentaram retornos bem superiores à média.

Mas a revolução tecnológica de 2021 suplantou as Big Techs. Companhias emergentes presentes nos segmentos de software e serviços, como Cloudflare (+73%), Fortinet (+142%) e Datadog (+81%) deram alegrias aos investidores. Do lado do setor de semicondutores, em particular, além da Nvidia (sempre ela) os ganhos se estenderam para nomes até então desconhecidos, como por exemplo a Marvell (+84%), além das fab five (Applied Materials, Lam Research, KLA Corp, ASML e Tokyo Electron), que registraram ganhos ao redor dos 80% no ano.

No universo cripto, vivemos uma verdadeira revolução. O metaverso explodiu após o anúncio da Meta, e tokens como The Sandbox e Axie Infinity chegaram a subir mais de 16.000%. O Ether, segunda maior criptomoeda do mundo, subiu 400% no ano, enquanto a Solana impressionou com uma valorização superior a 1.000%.

Do lado da macroeconomia o sentimento se assemelhava ao momento atual. A liquidez global fluía livremente e procurava ativos ao redor do globo. Até a metade do ano, os bancos centrais mostravam uma postura confortável com a evolução da inflação e empurravam os investidores para os ativos de risco.

O cenário atual guarda algumas semelhanças com 2021. Apesar da última decisão do Federal Reserve ter se mostrado menos otimista em relação à continuidade do processo de afrouxamento monetário, a inflação, outrora incômoda, vem sendo mantida abaixo dos 3% ao ano, limitando os efeitos negativos nos balanços das companhias e famílias. 

Os investimentos realizados pelo mundo corporativo, feitos ao longo dos últimos anos, devem começar a maturar e prover ganhos importantes de produtividade. Além disso, o ano de 2025 será o primeiro sob a tutela de um novo governo — tradicionalmente um período de entusiasmo para os investidores —, cujos primeiros passos parecem ter sido construídos para estimular negócios.

Do lado da tecnologia, estamos à beira de uma nova fase. É o ano da adoção das ferramentas de inteligência artificial. A OpenAI tem avançado rapidamente com novos lançamentos do seu ChatGPT; a Apple tem provido seus novos celulares com a nova Siri (bem a conta-gotas, é verdade); a mobilidade urbana ganhará uma nova regulação e a Tesla poderá colocar a sua frota de robotaxis de pé; as criptomoedas ganharam um suporte importante, por meio da nomeação de Paul Atkins na SEC, e, também, com a entrada de David Sacks (um dos fundadores do PayPal) no bloco de suporte do governo; a Nvidia acabou de lançar uma nova mini GPU para alimentar robôs, carros e outros itens que requeiram automação. A lista de novidades é enorme…

E aqui faço um adendo ao nosso cenário (ideia número 9):

O Google voltará a chamar atenção dos investidores com os seus novos lançamentos.  As narrativas recentes carregadas de preocupações sobre os processos do Departamento de Justiça americano em torno do Chrome e da perda do poder de fogo da ferramenta do Search ficarão para trás. A empresa surpreenderá com o avanço do Gemini (IA) e trará mais novidades sobre o seu chip Willow, estabelecendo os passos em direção a computação quântica. O Waymo invadirá outras regiões do globo e passará a ser considerado oficialmente o primeiro serviço de mobilidade autônoma. Devido a mudança de ótica das narrativas, o retorno das ações da sua holding, a Alphabet (Nasdaq: GOOGL), surpreenderá e será o maior entre as magnificent seven.

Eu vou insistir na mensagem que procurei trazer para vocês este ano inteiro: estamos diante de um novo roaring-20s nas bolsas americanas, em especial, no mundo da tecnologia. Ficar de fora não é uma escolha sensata. Hora de subir o próximo degrau!

O comportamento dos mercados em dezembro

O mês de dezembro começou a “bater no bumbo” da forma que esperávamos. Nos primeiros dias do mês, o fluxo de liquidez correu em direção às Big Techs e aos setores ligados à tecnologia. Os ativos ligados à economia real, que haviam sido impulsionados após a eleição de Donald Trump acabaram ficando para trás, em um movimento claro de realização de lucros.

O ânimo, entretanto, foi abalado ontem (18), após a decisão do Federal Reserve. O Hawkish Cut de 25 pontos base na taxa básica de juros trouxe uma certa frustração. A entrevista de Jerome Powell realizada seguinte ao anúncio, colocou um pouco de água no chopp para aqueles que esperavam a consagração de um ciclo intenso de cortes de juros em 2025. 

É muito provável que o Fed transite de forma mais suave ao longo do ano que vem, provendo liquidez quando as condições ficarem mais tensas, mas não deve correr com o afrouxamento dos juros. Neste sentido, é preciso ter em mente que o mandato de Powell expira daqui a 17 meses, e a única coisa que ele não deve querer é deixar um legado de inflação elevada…

Do meu ponto de vista, o movimento de ontem deveria ser lido como exagerado e oportuno para a reta final do ano. A mudança de tendência de apetite ao risco não acontecerá por conta de 25 pontos base. A dinâmica das companhias também não mudará. Se a economia está forte, muito provavelmente sentiremos nos resultados trimestrais que começarão a ser divulgados hoje — a Nike deve soltar os seus números após o fechamento do mercado. 

Por aqui, o desespero bateu à porta. Após o aumento da Selic em 100 pontos base e a sinalização da ata de que os juros básicos brasileiros devem caminhar para os 14,25% ao final de março, o Banco Central achou que poderia contornar a ansiedade dos investidores. Ledo engano.

Os instrumentos de riscos brasileiros (Bolsa, juros e câmbio) perderam suas âncoras. O índice Ibovespa voltou aos 120.722 pontos, as taxas de juros de 10 anos caminham rapidamente para a casa dos 15,5% e o dólar bateu os R$ 6,30. Os sinais da dominância fiscal, já deflagrados, agora começam a cobrar seu preço. O Real parece caminhar rapidamente em direção ao passos da lira turca…

Por ora, ainda não chegamos à lona e, por isso, ainda não vejo oportunidades claras no mercado local. Apesar dos estrondos no mercado financeiro, os sintomas ainda não apareceram na economia e, consequentemente, não deflagraram o pânico do Congresso. Todos ainda estão sim procurando garantir o seu quinhão…

Do lado dos fundos da casa, os destaques continuam com os fundos de tecnologia, mesmo após o pregão difícil de ontem. O Empiricus Tech Chain avança mais de 9% no mês e, no ano, acumula uma alta de 80%. O Tech Select recuperou o espaço perdido no mês passado e sobe mais de 7% agora em dezembro. 

Em resumo, a reta final do ano parece mais desafiadora do que tínhamos em mente. Hora de trabalhar dobrado.

Forte abraço,
João Piccioni


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Excepcionalmente hoje, não trouxe a tabela de retornos dos fundos da casa. Voltarei com ela na última edição do ano Diário de Bordo na semana que vem.

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