Diário de Bordo
Os ecos do “Reflation Trade”
Um eco, no sentido mais geral, é um fenômeno acústico que ocorre quando um som emitido é refletido por uma superfície, como um prédio, uma montanha ou qualquer grande obstáculo, e retorna ao ouvinte após um intervalo de tempo perceptível. Nos mercados financeiros, o tempo é costumeiramente utilizado para descrever situações nas quais algum evento ou padrão histórico se repete, ou que gera efeitos persistentes no presente.
Agora de forma mais nítida, foi possível perceber neste primeiro quadrimestre de 2024 o quanto os investidores estiveram revitalizando os ecos do “reflation trade” em suas tomadas de decisão. Apesar das boas surpresas das empresas ligadas ao mundo da tecnologia, o destaque (ou surpresa) veio mesmo das ações ligadas aos ativos reais. A forte valorização de algumas das principais commodities neste período pode ser vista como a espinha dorsal dessa tese, que certamente ganhou adeptos.
Ao longo do período, o impulso provocado pelo crescimento econômico americano, associado à recuperação marginal da Zona do Euro e da China, e aos conflitos geopolíticos no Oriente Médio, empurrou o preço da gasolina para cima. O preço do galão nos EUA voltou às suas máximas em 12 meses (US$ 2,68 ou o equivalente aproximado a R$ 3,80 por litro), empurrado pela forte demanda e pela alta recente dos preços do barril de petróleo. O urânio, o cobre, a prata e o ouro também se destacaram e voltaram a figurar no portfólio dos grandes Hedge Funds (e nas reservas chinesas).
Nem mesmo os indicadores econômicos americanos divulgados nos últimos dias de abril conseguiram apaziguar o relativo bom humor dos investidores em relação às commodities. Apesar do soluço no PIB no primeiro trimestre do ano, cujo avanço anualizado ficou na marca do 1,6% contra a expectativa de 2,5%, a força e a recuperação da economia parece visível sob a ótica dos demais indicadores e, por isso, as apostas ainda continuaram direcionadas às commodities e aos ativos reais que as seguem.
Diante desse quadro, os fundos temáticos da casa que contemplam as estratégias de Petróleo, Urânio, Cobre, Prata e Ouro, acabaram por apresentar um excelente desempenho neste primeiro quadrimestre.
No primeiro, o Empiricus Petróleo FIM, praticamente todos os ativos presentes no portfólio andaram em conjunto. Do lado dos investimentos internacionais, tanto os ETFs que investem em companhias internacionais — SPDR S&P Oil & Gas Exploration & Production ETF (ARCA: XOP) e o The Energy Select Sector SPDR Fund (ARCA: XLE) — quanto o futuro do barril do petróleo tipo Brent, avançam ao redor dos 15% em dólar no ano. Nos ativos nacionais, mais recentemente, concentramos a posição nas ações da Petrobras, diante da leitura de que a companhia ainda apresenta uma capacidade brutal de remunerar seus acionistas e um melhor binômio risco-retorno ante às demais companhias listadas na B3.
Sob a ótica macro, são dois os vetores que podem sustentar os preços do barril nesses níveis, além do risco geopolítico. O primeiro deles diz respeito ao início da driving season (férias de verão) nos EUA, cuja sazonalidade é favorável para manutenção ou elevação dos preços dos combustíveis. Já o segundo vetor está ligado à Europa, que passa por um processo de recuperação econômica moroso, mas que vai hospedar eventos esportivos importantes nos próximos meses (Olimpíadas em Paris e Eurocopa). Tais eventos podem trazer um pouco mais de força para sustentar preços das commodities energéticas em níveis mais elevados.
Já o fundo de Urânio, o Empiricus Urânio FIM, tem apresentado um bom desempenho desde o começo do ano. A narrativa envolvendo o avanço da utilização de energia nuclear vem ganhando força faz alguns anos e as empresas do setor ainda têm dificuldades em aumentar a produção do minério. Na China, a produção de energia nuclear já é ponto pacífico, e no estágio atual existem mais de 25 reatores em construção. Nos países desenvolvidos, em especial nos EUA, a discussão ainda precisa avançar, ao passo que assegurar fontes de energia mais estáveis será fundamental para alimentar a infraestrutura ligada ao mundo da Inteligência Artificial, que cresce exponencialmente dia a dia. Em dezembro de 2023, escrevemos uma primeira carta sobre o setor — veja neste link.
Em termos de portfólio, o fundo continua posicionado no Global X Uranium ETF (ARCA: URA), cuja maior posição é das ações da canadense Cameco (NYSE: CCJ). A empresa de mineração possui braços no seu país de origem, no Cazaquistão, maior produtor global da commodity, e na Austrália. Além disso, recentemente, fechou a aquisição da Westinghouse Electric em parceria com a Brookfield Asset Management para consolidar o conceito de uma plataforma integrada de produtos voltados para o processamento do urânio. As perspectivas para o setor parecem bastante atrativas.
O comportamento dos mercados em Abril e os ajustes nas carteiras
O mês de abril guardou as primeiras surpresas negativas para os mercados globais. O índice S&P 500 marcou seu pior mês desde novembro do ano passado (-4,16% no mês, aos 5.035 pontos), puxado pelos prognósticos negativos relacionados à política monetária americana, que deixou em aberto a possibilidade de não haver corte de juros neste ano — amanhã (1) teremos mais um ponto de análise, após o encerramento da reunião do FOMC.
Um movimento como este já era praticamente telegrafado, após o forte começo de ano. Nos bull markets, correções como estas precisam ser vistas como naturais. Dessa forma, mantenho comigo a ideia de que os prognósticos à frente continuam positivos e quedas como esta devem ser lidas como oportunidades de investimento.
Aqui no Brasil, a leitura é um pouco mais dura, devido especialmente à dinâmica da curva de juros local. Os índices de inflação ainda guardam alguma volatilidade e não auxiliam os discursos dos membros do Banco Central Brasileiro. Dada essa incerteza em relação ao processo desinflacionário, as ações ligadas à economia doméstica ainda patinam — o índice de Small Caps, por exemplo, perdeu 7,76% em abril.
Por outro lado, o Ibovespa até que cumpriu um bom papel. A recuperação das ações da Petrobras acabou por neutralizar as perdas em outros segmentos e a bolsa brasileira caiu pouco em abril (-1,7%). Como tenho pontuado, as ações da estatal guardam um binômio risco-retorno interessante para o momento.
Por fim, nos próximos dias, divulgaremos a nossa carta mensal. Nela, abordaremos eventuais mudanças nos fundos da casa e nossa leitura sobre o ambiente macro. Não deixe de ler.
Forte abraço,
João Piccioni.
Apresentamos a seguir a tabela contendo os resultados das principais estratégias da casa, nas janelas mensal, anual, semestral e anual. Caso você deseje conferir algum outro fundo que não esteja presente nesta lista, visite o nosso site: www.empiricusgestao.com.br.
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