Bússola do Mercado
Desgaste Político e Tensões Comerciais Redesenham o Cenário

O cenário era de otimismo, com um ambiente local sem grandes ruídos e um movimento global favorável para ativos de risco. O mercado acionário brasileiro vinha apresentando resultados positivos, mas a estrutura econômica seguiu inalterada. Alguns dados, como o saldo positivo na geração de empregos, foram bem recebidos, mas não eram suficientes para sustentar uma mudança de narrativa no longo prazo. Logo, o mercado local começou a mudar de direção.
A mudança veio com a divulgação de novas pesquisas eleitorais, que trouxeram sinais de desgaste para o governo. O presidente Lula viu sua popularidade cair, principalmente em São Paulo, onde levantamentos recentes apontam um declínio na aprovação de sua gestão. Pesquisas da Datafolha e Genial/Quaest indicam que Lula enfrenta alta desaprovação em diversos estados, incluindo regiões onde historicamente contou com forte apoio.
Um levantamento da Paraná Pesquisas revelou que o presidente perderia para o ex-presidente Bolsonaro. Além disso, em um segundo e terceiro cenário, também seria derrotado por Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em uma eventual disputa eleitoral, reforçando a deterioração de sua imagem política.

O mercado assimilou rapidamente esse movimento e começou a precificar novos riscos políticos. O descontentamento crescente com as políticas do governo já se reflete na percepção de que a recuperação não chega para todos. O custo de vida segue pressionando o bolso dos brasileiros, e a condução da política fiscal continua a gerar apreensão, ampliando as incertezas sobre os próximos passos do governo.
Como resposta, o governo intensificou falas sobre medidas de estímulo ao consumo e buscou reafirmar sua base política. Já se discutia a ampliação de programas sociais, novas isenções tributárias e a liberação de recursos do FGTS para impulsionar a economia. No entanto, essas iniciativas não alteram o quadro de fragilidade fiscal e indicam que os juros futuros devem seguir elevados.
Enquanto essas discussões avançavam, o IPCA-15 de fevereiro foi divulgado e apresentou alta de 1,23% no mês, abaixo da expectativa de 1,36%. No acumulado de 12 meses, a inflação acelerou para 4,96%, ante 4,50% no mês anterior. Mesmo abaixo das projeções, a inflação segue pressionada por itens como automóveis novos e serviços, reforçando as preocupações com o custo de vida e os desafios para o Banco Central na condução da Selic.
No cenário internacional, a ata da última reunião do FOMC, divulgada na quarta (19), manteve a cautela dos dirigentes do Fed quanto ao rumo da política monetária. A incerteza sobre os juros segue elevada, com o banco central americano aguardando mais progressos da inflação antes de considerar qualquer ajuste. O documento também destacou a resiliência do mercado de trabalho e da atividade econômica, sustentando as expectativas de inflação no longo prazo.
Enquanto o Brasil lida com instabilidades políticas e econômicas, Rússia e Estados Unidos avançaram em negociações para encerrar o conflito na Ucrânia, com encontros realizados em Riade e novas reuniões previstas para a Turquia. Na Europa, a crise política na Alemanha levou à antecipação das eleições federais, o partido conservador saiu vitorioso, enquanto a extrema-direita ganhou força, gerando dúvidas sobre a formação do novo governo.
Nos Estados Unidos, Donald Trump reacendeu as tensões comerciais ao anunciar, na quinta (26), a intenção de impor tarifas de 25% sobre produtos da União Europeia, incluindo automóveis, alegando práticas comerciais desleais. A Comissão Europeia reagiu rapidamente, prometendo retaliar caso as tarifas sejam implementadas, elevando os riscos para o comércio global. Além disso, Trump adiou para 2 de abril as tarifas sobre México e Canadá, condicionando a decisão a avanços no combate ao tráfico de fentanil e no reforço da segurança na fronteira. O aumento das incertezas gerou volatilidade nas bolsas asiáticas e nos futuros americanos, à medida que investidores tentam antecipar os desdobramentos dessas medidas.

No setor corporativo, a Nvidia reportou um resultado robusto no quarto trimestre fiscal, com lucro líquido de US$ 22,1 bilhões e receita de US$ 39,33 bilhões, impulsionada pela crescente demanda por chips de inteligência artificial. Os números vieram acima das expectativas do mercado e reforçaram a posição da empresa como referência no setor, consolidando seu domínio no segmento de semicondutores, apesar das preocupações regulatórias e da concorrência crescente.
Diante desse cenário, os mercados seguem navegando entre riscos geopolíticos, incertezas econômicas e expectativas sobre os próximos passos dos bancos centrais.
Com a nossa Bússola do Mercado calibrada, como ficaram os resultados dos fundos?
Agora é hora de conferir como algumas estratégias Empiricus Gestão enfrentaram as turbulências recentes, com data- base de 25/02.
O Empiricus Microcap avançou 4,05% em fevereiro, impulsionado pelo desempenho da Estapar (ALPK3), sua maior posição. A empresa segue em crescimento, com alta de 17% na receita líquida no 4T24 e expansão operacional de novas vagas de estacionamento. A recente aquisição da Sem Parar reforça sua estratégia de diversificação e sinergia, consolidando sua posição no mercado.
O Empiricus Ouro vem carregando uma rentabilidade de +1,78%, impulsionado pela busca por ativos de refúgio diante da incerteza econômica e do viés disruptivo das políticas de Trump. A volatilidade nos mercados e a expectativa sobre a trajetória dos juros nos EUA reforçaram a demanda pelo metal, beneficiando o fundo.
O Empiricus Superprevidência Arrojado, fundo de ações para investidor geral, apresenta no mês uma rentabilidade de 0,64% contra -0,12% do Ibovespa, impulsionado pela alocação de 30% em inflação longa. Em um cenário de incerteza fiscal e expectativas de juros mais altos por mais tempo, os papéis atrelados à inflação tiveram um desempenho positivo.
Em nossa carta mensal, que sairá em breve, entraremos em mais detalhes sobre a performance dos fundos. As últimas duas semanas foram intensas, mas espero ter proporcionado um panorama claro dos principais acontecimentos.
Fique de olho, pois a cada quinzena vamos acompanhar de perto como essas variáveis evoluem e quais novas oportunidades — ou riscos — podem surgir.
Abraços,
Yasmin Orozimbo
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