Diário de Bordo
Não é só um rali de final de ano (e há verdadeiras oportunidades à mesa)
Enfim, a Bolsa brasileira deslanchou.
A primeira pernada veio no Ibovespa. O principal índice da B3 atingiu a marca dos 125.800 pontos, puxado pelas arrancadas das ações da Petrobras, Vale, B3, Itaú, BTG Pactual, Gerdau, entre outras. As gigantes brasileiras finalmente se aproveitaram da descompressão das taxas de juros americanas e geraram nesses 20 dias de novembro retornos maiores do que a renda fixa do ano todo.
A redução da aversão ao risco global se tornou evidente. Ao menos nessa reta final de ano. Praticamente todas as bolsas globais estão em território positivo no mês, capitaneadas pelos países emergentes. O índice MSCI Brazil avança 12,9% em dólares e é um dos líderes do ranking no mês (só perde para a bolsa mexicana e para a Argentina, que disparou após a eleição de Javier Milei).
Passados 30 meses desde seu último topo, a bolsa brasileira continua barata. Seja sob a ótica do Ibovespa, índice composto pelas maiores empresas brasileiras, seja sob a luz do índice de small caps, cuja restrição do tamanho das empresas na construção da sua carteira faz com que seu foco recaia nas ações ligadas ao setor doméstico.
Ao longo desse período, duas variáveis macroeconômicas afetaram de forma considerável os resultados corporativos e, consequentemente, o desempenho das ações. No primeiro momento, foi possível perceber o efeito deletério do processo inflacionário, que comprimiu as margens operacionais das empresas. Os preços mais elevados das matérias-primas e das cadeias logísticas reduziram o espaço para lucratividade. Em seguida, a reação da política monetária, com o aumento das taxas de juros, dificultou o trabalho das tesourarias ao encarecer substancialmente o preço do dinheiro.
Apesar de acostumados com níveis elevados da taxa Selic, dessa vez, os CFOs foram tomados de assalto pela intensidade do processo de aperto monetário. Por aqui, nunca antes neste século houve algo parecido: em 18 meses, a taxa Selic subiu impressionantes 1.175 pontos base e colocou todo o trabalho na construção da estrutura de capital realizado pelas empresas na lata do lixo. Sob esta ótica da dificuldade, primeiro é preciso enaltecer a resiliência da maior parte das companhias brasileiras que resistiram à essa reviravolta. Em seguida, é preciso exaltar os times que conseguiram transitar nestes anos sem grandes sobressaltos nos seus resultados.
Passados os primeiros meses do processo de desinflação e do início do afrouxamento monetário, já é possível identificar os balanços que mais se beneficiarão dessa dinâmica. E daí saem dois pontos que vejo como imprescindíveis nas teses de investimento. O primeiro deles diz respeito à geração de fluxos de caixa futuros das companhias, cuja suficiência para cobrir o serviço da dívida dos próximos anos e realizar investimentos ganhará mais fôlego. Neste sentido, observar o histórico dos retornos obtidos com seus projetos é um aspecto fundamental. Gosto dos casos que, mesmo em tempos difíceis, conseguiram gerar retornos interessantes sobre o capital. Os recursos extras provenientes da economia com as despesas de juros poderá fazer bastante diferença aos acionistas.
O segundo ponto é um pouco menos trivial, mas talvez guarde a chave do sucesso empresarial. Se no primeiro momento a dinâmica inflacionária machucou as margens operacionais, no passo seguinte, forçosamente ela fez com que as companhias revisem a política de preços dos seus produtos. O repasse de preços não é trivial e envolve necessariamente um bom posicionamento competitivo (veja o Diário de Bordo do dia 07 de novembro, que versa sobre as 7 forças de Hamilton Helmar). Para algumas empresas, essa sintonia fina trouxe surpresas positivas, ao permitir a identificação mais clara das suas vantagens competitivas. No equacionamento entre oferta e demanda, uma parcela das companhias conseguiu melhorar seus números e crescer suas receitas por meio do exercício do poder de marca.
Diante dos vetores que vou chamar de “ações baratas” e “retomada do controle dos balanços corporativos”, a perspectiva para as ações brasileiras melhoraram substancialmente para 2024. A não ser que um evento de cauda atinja os mercados globais de forma sorrateira, o Ibovespa e o índice de Small Caps têm tudo para liderarem o ranking dos investimentos de ativos de risco no ano que vem. Aqui na casa, os fundos ligados aos relatórios da Empiricus Research (Empiricus Oportunidades de uma Vida FIA, Empiricus MAB FIA e Empiricus Microcap Alert FIA) mostraram sua cara agora em novembro, estão firmes no campo positivo, com destaque para o último que avança mais de 32% em 12 meses.
Chamo a atenção também para o Empiricus Deep Value FIA, fundo de ações baseado nas ideias da equipe de gestão. A estratégia do fundo mescla análises quantitativas e qualitativas na seleção das companhias, e procura manter uma alocação direcionada para as ações de valor com maior capitalização de mercado. Seu retorno acumulado nos últimos 24 meses é de 25,44% (cota do dia 16 de novembro) e, neste período, supera o Ibovespa em cerca de quatro pontos percentuais. A minha missão é acrescentar ao processo decisório maior profundidade na construção das teses de investimento e refinar o processo de alocação, além de, claro, buscar retornos diferenciados aos seus cotistas. Um trabalho árduo, mas que renderá bons frutos. Vamos em frente.
O comportamento dos mercados no mês de novembro
Não foi somente a bolsa brasileira que deslanchou no mês de novembro. Lá fora, o S&P 500 voltou a flertar com as máximas do ano. Puxada pelas ações da Microsoft, o índice marcou os 4.500 pontos, representando uma valorização de 18% em 2023.
Os indicadores econômicos americanos continuaram apontando para uma desaceleração da atividade e, assim, continuam suscitando a possibilidade dos chamados “goldilocks”. A alta do mês atingiu praticamente todos os setores, mas o destaque até aqui ficou mesmo com as empresas de tecnologia. O Empiricus Tech Select FIA, por exemplo, continuou a avançar e agora sobe mais de 6% no mês (levando em consideração a cota do 17/11, o fundo sobe 33,98% no ano).
Logicamente, ainda existem preocupações no radar. Uma desaceleração mais brusca da economia americana poderia levar o restante do globo para um processo de recessão mais duro. Minha opinião é que, desta vez, os bancos centrais possuem um estoque elevado de ferramentas para utilizar no caso de um ambiente mais deteriorado. Apesar dos discursos mais duros dos seus dirigentes, feitos para administrar as expectativas, não acredito que o Fed deixaria a economia entrar em uma espiral negativa, ainda mais em um ano eleitoral.
Aqui no Brasil, vimos por mais uma semana consecutiva a descompressão da curva de juros. O processo desinflacionário tem se mostrado cada vez mais sólido, alimentado pela fraqueza da economia brasileira. Neste sentido, o espaço para a queda mais intensa de juros começa a recuperar adeptos. Particularmente, reforço meu call feito em meados de julho: em breve, à medida que a inflação se mostrar controlada, o tamanho dos cortes da Selic aumentará e, muito provavelmente, a taxa terminal deste ciclo será mais baixa do que aquela que o mercado está prevendo. Se com isso a inflação retornará, é impossível prever. Mas certamente, os ativos de risco brasileiros se destacarão. À conferir.
Forte abraço,
João Piccioni
PS 1. Em breve, publicaremos a primeira carta do Empiricus Deep Value FIA nos mesmos moldes daquela que fizemos para o Empiricus Tech Select FIA. O objetivo é mostrar para os investidores a estratégia utilizada para montar a carteira do fundo, além de uma pincelada nas principais teses de investimento presentes no fundo. Não deixe de ler.
PS 2. Para você que deseja investir seus recursos nos fundos da Empiricus Gestão, lembre-se de fazer o envio dos recursos para a sua própria conta dentro das plataformas do BTG Pactual Digital ou Empiricus Investimentos. Não envie seus recursos para a antiga conta da Vitreo DTVM!
PS 3. Não esqueça de fazer o seu cadastro no Telegram da Empiricus Gestão! Siga esse link
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