Bússola do Mercado

Mudança de Ventos

Yasmin Orozimbo

22 maio 2025, 15:27 (Atualizado em 22 maio 2025, 15:27)

Nas últimas décadas, os Estados Unidos consolidaram uma hegemonia financeira. Hoje, o mercado acionário norte-americano concentra boa parte do capital internacional e segue sendo o principal destino. A fatia dos EUA nos índices globais de ações supera os 60%. Wall Street virou o centro de gravidade do capital global.

Esse domínio financeiro teve um custo interno, a globalização esvaziou parte da base industrial local, movimento que tem se aprofundado nos últimos anos. A pandemia, conflitos geopolíticos e a disputa por liderança em inteligência artificial aumentaram a percepção de vulnerabilidade. Governos passaram a intervir, proteger cadeias produtivas e garantir acesso a recursos estratégicos.

Nos EUA, essa mudança ficou ainda mais clara a partir do atual governo Trump. A política de tarifas, o abandono de acordos multilaterais e o incentivo à indústria local deram o tom. O resultado foi um novo arranjo global, com menos integração e mais intervenção, as políticas fiscais expansionistas nos EUA pressionaram ainda mais os preços de alguns ativos e setores. A inflação voltou a ser tema central e o Federal Reserve passa a ter um holofote para decisões nas trajetórias de juros, como na última reunião comentada na última Newsletter.

Mesmo com juros altos e incertezas políticas, o mercado norte-americano segue resiliente. O S&P 500 voltou a se aproximar de máximas, o investidor ainda aposta no excepcionalismo americano e o dólar continua forte, o Vale do Silício mantém sua força e o poder militar dos EUA sustenta a confiança.

Mas os sinais de desgaste começaram a aparecer. Além de todos os acontecimentos que temos acompanhado, principalmente do tema de tarifas, a Moody’s uma das principais agências de rating rebaixou a nota de crédito soberano dos EUA, citando a deterioração fiscal e a falta de perspectiva de ajuste. Isso provocou reações pontuais nos mercados e abriu espaço para realocação de recursos em direção a ativos descontados.

O Brasil foi um dos beneficiados, neste ano, a bolsa brasileira voltou ao radar dos estrangeiros. A entrada de capital externo tem sido presente e ganhou tração nos últimos meses. Só em maio, estima-se que mais de 6 bilhões de reais tenham sido aportados por investidores internacionais, elevando o acumulado do ano para cerca de 16 bilhões.

O estrutural não mudou, mas o interesse geral se explica por um conjunto de fatores. Os ativos locais estão baratos, há uma saída de recursos dos EUA, e a eleição presidencial de 2026 tem entrado no radar. O mercado vê chance de mudança e começa uma antecipação de possíveis cenários locais que seriam positivos. Isso ajudou a aumentar o apetite por risco Brasil.

Além disso, na última semana tivemos um ponto adicional com a fala de Galípolo no evento do Goldman Sachs, sinalizando fim do ciclo de aumento da taxa de juros, defendendo manutenção dos juros em nível restritivo por mais tempo, onde um corte depende de como serão os próximos dados econômicos.

No dia 20 de maio, o Ibovespa fechou acima dos 140 mil pontos pela primeira vez. O número é simbólico, mas carrega uma leitura ampla, reflete essa combinação de cenário doméstico com um forte componente externo. Ainda não dá para cravar uma inversão estrutural no fluxo global, mas o movimento recente indica que o investidor tem buscado outras oportunidades.

Dito isso, reforço a importância de manter um portfólio diversificado — tanto geograficamente quanto por classe de ativos —, combinando posições locais com exposição a instrumentos de proteção, como ouro, moedas fortes (como o dólar) e outros ativos que ajudam a equilibrar o risco.

E para não perder o costume, um breve comentário sobre o tema tarifário: um acordo preliminar entre EUA e China, que prevê a reversão parcial das tarifas impostas durante a guerra comercial, ajudou a melhorar o apetite por risco no cenário global. Essa sinalização também reacendeu o interesse por empresas de tecnologia, que voltaram a apresentar desempenho positivo após um período de estagnação.

Com a nossa Bússola calibrada, como ficaram os resultados dos fundos?

Agora é hora de conferir como algumas estratégias Empiricus Gestão enfrentaram as turbulências recentes, com data-base de 19/05.

Os criptoativos vêm apresentando um mês forte, impulsionados pelo avanço regulatório nos EUA e pelo bom desempenho do mercado como um todo. Esse cenário reforçou a confiança dos investidores e levou os preços a novos patamares. O nosso ETF CRPT11 subiu +14,64% no período, enquanto os fundos temáticos também entregaram retornos, com o Empiricus Cripto High Beta avançando +11,01% e o Empiricus Criptomoedas +9,93%.

Na bolsa local, os fundos de ações seguiram capturando o movimento de alta descrito ao longo do texto. O Empiricus Microcap subiu +8,22%, o Market Makers teve alta de +6,83% e o Empiricus Deep Value carrega ganho de +6,22%.

Fique de olho, pois a cada quinzena seguimos acompanhando de perto como essas variáveis evoluem e quais novas oportunidades — ou riscos — podem surgir no caminho.

Abraços,
Yasmin Orozimbo

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