Diário de Bordo
Para não dizer que não falei das fl…— do bitcoin
“Para falar a verdade, não importa muito o que eu penso, mas sim o que o mercado está querendo me dizer quando os preços sobem”. Foi essa a resposta que dei para um amigo, CIO de um grande Family Office suíço, ao ser indagado sobre minha crença nas criptomoedas.
De volta aos US$ 57 mil, o bitcoin voltou a chamar a atenção e recriou a aura fantasiosa sobre seus superpoderes. A corrida para a moeda digital vem se acelerando, especialmente após a aprovação dos ETFs no começo do ano. O patrimônio acumulado nos fundos superou a marca dos US$ 10 bilhões em apenas dois meses e ampliou a perspectiva do seu uso como instrumento de reserva de valor.
Com os ETFs, e sem as exchanges que provocaram o mal ao setor (FTX, Binance, entre outras), a confiança no mundo cripto tende a ganhar força e os vetores de valor que deveriam alimentar os diferentes projetos começarão a ganhar atenção. Diferente de 2021, entretanto, aposto que teremos um maior escrutínio e racionalidade na hora de alocar recursos – nada de Dogecoin ou Shiba Inu.
Os recursos para os protocolos do mundo cripto competirão em breve com a volta do apetite pelo mundo da tecnologia. O entrelaço entre o blockchain e a Inteligência Artificial, por exemplo, ganhará força. No cenário digital, essa integração deve aprimorar a segurança dos dados, a descentralização da governança da IA e fomentar a transparência e confiança. O blockchain, com seu registro imutável e descentralizado, oferece uma estrutura robusta para a segurança dos dados, além de garantir seu registro único. Essa característica é importante para a IA, já que a integridade dos dados é de suma importância. Ao aproveitar a tecnologia do blockchain, a IA pode operar com dados que não são apenas seguros, mas também transparentes e verificáveis, mitigando preocupações com sua manipulação e aprimorando sua confiabilidade.
A governança descentralizada representa outra vantagem significativa nessa integração. Os sistemas de IA tradicionais, muitas vezes controlados por entidades centralizadas, podem levar a preocupações com viés, uso indevido e eventual falta de responsabilidade — vide o acontecido com a Gemini, do Google. O blockchain introduz um modelo de governança descentralizado, possibilitando uma abordagem mais equitativa para o seu desenvolvimento e implementação. Esse modelo permitirá a criação de sistemas mais transparentes. Por meio do uso de contratos inteligentes, por exemplo, o blockchain pode facilitar o estabelecimento de regras claras e de responsabilidade para os diferentes sistemas de IA, garantindo que eles operem dentro de limites éticos e operacionais acordados.
Além disso, a sinergia entre blockchain e IA aprimora a transparência e a confiança em processos operacionais. O registro no blockchain permite o rastreamento e a verificação de dados e transações, fornecendo um claro histórico de auditoria. Quando combinado com as capacidades analíticas da IA, os processos decisórios se tornam mais confiáveis. Na gestão da cadeia de suprimentos, por exemplo, enquanto o blockchain registra os dados imutáveis referentes à mercadoria, a IA pode analisá-los e construir uma árvore decisória capaz de otimizar sua eficiência e integridade.
O caminho das criptomoedas parece bastante promissor. Mas sobre a ótica dos investimentos, é preciso sempre ajustar as velas (e a alocação). Manter os ativos encarteirados neste momento me parece algo crucial para se aproveitar o vento de cauda gerado a partir do surgimento dos ETFs e, também, pelo halving do bitcoin esperado para o mês de abril. Vale também a atenção para a expectativa de aprovação do ETF à vista de Ether, esperada para o mês de maio. Tal movimento deve aumentar ainda mais o apetite dos investidores. Será a institucionalização disso tudo que poderá levar o bitcoin e as outras criptomoedas para novas máximas? No final, a mensagem que o mercado está querendo passar é clara: a hora é de comprar.
O comportamento dos mercados em Fevereiro e os ajustes nas carteiras
O bull market finalmente contagiou todos os mercados globais. Na véspera do fechamento do mês de fevereiro, são poucas as bolsas globais em queda. Do lado dos desenvolvidos, os destaques são as Bolsas americanas (o índice S&P500 avança 6,43% em dólares) e o Nikkei 225, que voltou a atingir suas máximas após 34 anos – 39.233 pontos e avança 8% em ienes. O posicionamento nas ações japonesas ganharam impulso após a carta da Berkshire Hathaway, escrita pelo megainvestidor Warren Buffett, na qual ele pondera manter a posição nas Holdings japonesas ad infinitum.
Do lado das Bolsas emergentes, o destaque veio da China, que deu sinais de recuperação ao longo de fevereiro. A percepção do mercado é que as iniciativas do governo chinês no âmbito monetário podem dar algum impulso aos mercados acionários. Até o fechamento de ontem, Hong Kong avançava mais de 8,4%, enquanto Shanghai subia 8,1%.
Aqui no Brasil o refresco veio após a divulgação do IPCA-15. O índice de inflação veio abaixo das expectativas dos economistas e abriu algum espaço para a continuidade do processo de arrefecimento monetário já esperado. Os olhos agora se voltarão para a divulgação do número cheio em março, mas, por ora, abriu o espaço para o Ibovespa voltar para cima dos 131 mil pontos. Em fevereiro, a valorização se aproxima de 1,3%.
O mês de março promete ser bastante intenso. As discussões sobre a política monetária devem ganhar monta, à medida que os indicadores econômicos comecem a ganhar manchetes. A reunião do FED ocorre nos dias 19 e 20 de março e deve gerar volatilidade para os mercados. É preciso manter olhos e ouvidos abertos. Vamos em frente.
Forte abraço,
João Piccioni
PS1. Na sexta-feira (1), divulgaremos a Carta Mensal do Gestor, na qual abordaremos os acontecimentos do mês de fevereiro e nosso posicionamento diante do cenário econômico que se avizinha. Não perca!
PS2. Na semana retrasada, gravei uma entrevista com a Paula Comassetto, do Seu Dinheiro, na qual abordei o racional e algumas teses de investimento do fundo Empiricus Tech Select FIA BDR Nível I. Veja nesse link.
PS3. Também divulgamos a segunda carta trimestral do fundo Empiricus Tech Select FIA. Nela, abordamos um pouco da história da tecnologia, questões envolvendo a Inteligência Artificial, as decisões de gestão e breves comentários sobre as teses de investimentos presentes na Carteira. Não deixe de ler! Link aqui.
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