Diário de Bordo
Com a palavra, João Piccioni
Os juros norte-americanos têm regido o ritmo do mercado mundial nas últimas semanas.
Até onde ele vai subir e por quanto tempo ficará em um patamar alto são as perguntas que o mercado financeiro quer responder, pois todos os ativos mundiais, inclusive os brasileiros, dependem das respostas.
Mas a economia e o mercado de trabalho por lá continuam muito resilientes, sempre surpreendendo com números mais altos que o esperado. E assim a inflação não cede, e o banco central dos EUA não consegue diminuir os juros (ou até parar de subi-los).
Para decifrar para onde os juros norte-americanos vão, em um ambiente ainda mais nebuloso com um começo de guerra entre Israel e o Hamas, abro espaço aqui ao João Piccioni, analista-chefe da Empiricus Research.
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O último trimestre do ano começou quente. Não bastasse o direcionamento mais duro da política monetária do Federal Reserve, que tem levado as taxas dos títulos americanos para as alturas, agora será necessário lidar com mais um conflito bélico. As notícias provenientes de Israel trouxeram um gosto amargo e o cenário geopolítico ganhou tons ainda mais acinzentados.
Na semana passada, quando o Kiki me convidou para escrever esta edição do Diário de Bordo, as preocupações estavam ligadas ao contínuo avanço das taxas dos títulos americanos. Logo após a divulgação do Payroll, o título de dez anos chegou a pagar 4,85% ao ano, reflexo da mudança das expectativas dos agentes quanto à dinâmica econômica do país.
O cenário de “No-Landing” (aquele no qual a economia continua rodando a todo vapor e que não sofre com os efeitos do aperto monetário) ganha força, e vai deixando os nervos à flor da pele. Isso porque, nesse tipo de ambiente, a continuidade do processo desinflacionário entra em xeque e leva a curva de juros a passar por aquilo que denominamos como “bear steepening”, que ocorre quando as taxas de juros de longo prazo sobem com mais velocidade do que aquelas que vencem em 1 ou 2 anos.
Os efeitos no comportamento dos ativos de risco proporcionados por este processo podem se tornar nefastos, já que ele mexe diretamente no custo de oportunidade e na capacidade de refinanciamento de dívidas das companhias. Por outro lado, para os investidores astutos (e mais pacientes), abre janelas de oportunidades bastante interessantes.
Com os juros reais de longo prazo na casa dos 2,5% ao ano, estruturar um portfólio carregado de títulos de renda fixa americana faz sentido para quem mira o longo prazo, especialmente para aqueles capazes de carregá-los até seu vencimento. A boa remuneração nominal em dólar parece guardar uma gordura suficientemente atrativa para enfrentar a marcação a mercado, que ainda pode trazer incômodos em quem se aventura a observar diariamente suas posições. Inclusive, o possível “efeito-riqueza” proporcionado por investimentos nestas taxas tem sido apontado por alguns economistas de renome como um dos vetores responsáveis pela manutenção da poupança americana (e eventual sustentação do cenário de “soft-landing”).
Neste ambiente, além da renda fixa, destacam-se os ativos reais. Independentemente do desenrolar da guerra envolvendo Israel e o Hamas, as ações das companhias do setor de energia (petróleo) me parecem bem posicionadas para capturar o desequilíbrio entre a oferta e demanda e uma eventual manutenção dos preços do barril (com viés ascendente). Tradicionalmente, o final de ciclo econômico é bastante favorável para esta classe, especialmente quando negociada por múltiplos extremamente atrativos. Manter um sobrepeso nesses ativos me parece bastante oportuno.
Por aqui, continuamos de olho no desconto exagerado das ações brasileiras. Deixadas de lado pelo investidor local, após os sinais de estresse global, as oportunidades apareceram no radar. Tanto do lado das commodities, quanto do lado das empresas ligadas ao cíclico doméstico, o sentimento é de que o exagero abre espaço para o investidor “colecionar ações”. Comprar boas companhias por preços módicos é algo que traz retornos relevantes para um portfólio de longo prazo.
Se o Fed realmente cumprir a sua promessa do “higher for longer” (manutenção dos juros básicos em níveis mais elevados por mais tempo), é provável que a volatilidade ainda permaneça presente no comportamento dos ativos de risco. Por outro lado, em algum momento, os juros elevados devem causar fadiga e rupturas em segmentos relevantes para o funcionamento da economia global. E isso significa que, a cada dia que passa, mais próximos estaremos de um novo processo de afrouxamento monetário, seja ele na forma da queda dos juros ou por meio da injeção de recursos nos bancos (quantitative easing). Nas últimas vezes em que isso aconteceu, as valorizações nos ativos de risco foram substanciais…
Como sempre, os desafios da gestão de recursos permanecem bastante vivos. Conseguir mitigar riscos e encontrar oportunidades é uma tarefa intensa e repleta de obstáculos, mas que carrega uma dose imensa de satisfação quando os objetivos de retornos dos seus investidores são atingidos. Essa é a busca incessante da equipe da Empiricus Gestão. Vamos em frente!
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Um abraço,
João Piccioni
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Um abraço,
Rodrigo Knudsen
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